quinta-feira, 3 de março de 2011

Desterritorialização



Desterritorialização é, nas palavras de Gilles Deleuze, uma "palavra bárbara" proposta por Felix Guattari para o entendimento de processos inicialmente psicanalíticos mas posteriormente ampliados para toda a filosofia desenvolvida pelos dois autores, especialmente na obra Mil Platôs.

Para além da concepção filosófica deleuzeana, em que aparece associada a processos como devir e "linhas de fuga", a expressão insere-se hoje em um amplo debate no âmbito das Ciências Sociais, da Antropologia à Ciência Política e à Geografia.

Assim, muitos autores defendem a tese de que a desterritorialização é a marca da chamada sociedade pós-moderna, dominada pela mobilidade, pelos fluxos, pelo desenraizamento e pelo hibridismo cultural. Devemos tomar cuidado para não sobrevalorizar esta "sociedade em rede" (nos termos de Manuel Castells), fluida e desterritorializada, na medida em que ela aparece sempre conjugada com a reconstrução de territórios, ainda que territórios mais móveis e descontínuos.

Haesbaert (em "O Mito da Desterritorialização") defende que desterritorialização seja um termo utilizado não para o simples aumento da mobilidade ou para fenômenos como a hibridização cultural, mas para a precarização territorial dos grupos subalternos, aqueles que vivenciam efetivamente (ao contrário dos grupos hegemônicos) uma perda de controle físico e de referências simbólicas sobre/a partir de seus territórios. Já que todo indivíduo não pode viver sem território, por mais precário e temporário que ele seja, desterritorialização pode se confundir, neste caso, com precarização territorial. Assim, haveria um sentido genérico, de desterritorialização como destruição ou transformação de territórios (enquanto espaços ao mesmo tempo de dominação político-econômica e de apropriação simbólico-cultural), e um sentido mais estrito, vinculado à precarização territorial daqueles que perdem substancialmente os seus "controles" e/ou identidades territoriais.

O que muitos denominam desterritorialização, especialmente quando relativo às classes mais privilegiadas, trata-se na verdade de uma reterritorialização em novas bases, a que Haesbaert propõe denominar "multiterritorialidade".

Fonte do texto: Wikipédia 

1 comentários:

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, magnífico. Revela-nos a necessidade de colocar para um diálogo numa mesa virtual dos nossos delírios MIlton Santos e Guattari...
Territórios lisos, hoje, já se vêem estriados como a rua, com as leis da polícia e das gangues, limitando as desterritorializações intensas.
Abraços com imensa ternura, Jorge