terça-feira, 29 de março de 2011

Zygmunt Bauman

"Otimistas são pessoas que insistem que o mundo que temos é o melhor possível; os pessimistas são os que suspeitam que os otimistas possam ter razão. Portanto, eu não sou nem otimista nem pessimista, porque acredito fortemente que outro mundo, alternativo e quem sabe melhor, seja possível. Acredito que os seres humanos sejam capazes de tornar real essa possibilidade".
BAUMAN, Zygmunt. in. COSTA, Marisa Vorraber. Compreender a vida na modernidade líquida. Revista Pedagogia Contemporânea. set. 2009.

sábado, 26 de março de 2011

Professor, peça de fácil reposição

Estou postando este artigo, pois, como também sou professora,  sou "uma peça de fácil reposição". Quando o recebi por e-mail, do meu amigo Turco, li-o chorando do início ao fim. Não posso acreditar que teremos esse índice de aumento. Trinta e oito reais não dá para comprar um botijão de gás! Irei à Assembléia no dia 08/04, no Gigantinho. Turco, nos encontraremos lá. O companheiro Tarso, como todos os outros políticos, tem que ter a nossa vigilância constante. Quando Ministro da Educação, ele garantia e lutava pela integralização do nosso piso salarial, mas esse ato na prática foi podado pelo governo Yeda. Por isso, abaixo à representatividade. Todos os políticos, desculpem-me a generalização apressada, são pessoas conscientemente cooptadas pelo sistema, só lhes interessa o seu mega salário, os pobres que se danem! Tem muita gente na fila para pegar o teu emprego, e o que é pior, por um salário mínimo. Os "podres" de Brasília se autopromoveram com mais de 60% de aumento em cima do absurdo que já ganhavam. Eu sei que chegará o dia da destruição da pirâmide, quando todos estiverem vivenciando as mesmas necessidades como as que eu estou passando, e já faz tempo. Teremos que dar um basta e implantaremos uma nova ordem nesse caos, só assim conheceremos definitivamente a cooperação. Com fome, não se discute, se age! Inverter a pirâmide cairia na lógica do marxismo, teríamos o proletariado explorando uma outra classe social. Não quero isso. Quero igualdade plena de condições para todos, sem ter que eleger representantes legais para agirem contra nós. Utopia?! Não importa! Beijos, Ana Carolina, pelo teu brilhantismo ao expor a tua opinião, que é minha também.

Tânia Marques 26 de março de 2011

Professor, peça de fácil reposição

* Profa. Me. Ana Carolina Martins da Silva no Sul21

Nós nos sobrecarregamos com a discussão político-pedagógica de nosso ambiente de trabalho, com a discussão do mundo, com a salvação das baleias, dos afogados, dos desprotegidos, lutamos pela paz mundial, pelo bom aprendizado e pela construção das mais diversas áreas do conhecimento, por laboratórios, por merenda escolar. Nós nos dedicamos tanto a construir e ajudar aos nossos educandos a se construírem que nem nos lembramos de nós mesmos. A missão é o objeto, nós somos um soldado fundamental do bom combate. Quanta ilusão! Na verdade, o Sistema nos vê como uma peça necessária, mas de fácil reposição.
As negociações desta semana, tanto do CPERS com o Governo do Estado do RS, quanto do SINPRO, com o Sindicato patronal das Escolas Particulares, SINEPE, parecem comprovar o que no fundo sempre desconfiamos, somos importantes, fazemos um papel fundamental, mas de onde saímos, saem muitos, somos descartáveis. Ainda que venhamos a fazer greve, depois temos de pagar em dinheiro pela rebeldia de querer existir; Podemos nos revoltar e tentar abrir os olhos de nossa comunidade, em termos de contexto político, então somos considerados agitadores, inclusive pela própria comunidade na qual estamos inseridos.
É de se pensar o porquê disso. Eu fico com a velha hipótese da luta de classes. O educador é o marisco entre a luta do rochedo e do mar. A maior parte de nós vem de classes abaixo da classe média. Fizemos a graduação em docência por ser aquela “mais em conta”, como se diz. A educação, além de ser a nossa forma de querer salvar o mundo, é a nossa forma possível de subsistência, nosso trabalho. Assim, magistério não é apenas vocação, magistério é profissão. Uma profissão que pode de fato efetuar uma transformação social. Inverter a pirâmide, eliminar a pirâmide, ensinar a pensar. É óbvio que para quem está no topo não é vantagem nos dar condições dignas de vida. É óbvio que precisamos estar sob controle, submissos, em servidão, com medo de sermos demitidos, de termos nossa vida funcional atrasada por anos. O Sistema não gosta de sopa de letrinhas, o Sistema é um glutão que come pessoas.
Quanto a nós, temos de ver o alto status financeiro e social de profissões que não se dedicam a ideais tão fundos com elegância. Não devemos nos comparar com os outros. Comparemo-nos com nossa própria classe… que classe? Quando conseguimos unanimidade em greve? Quando conseguimos unanimidade em ações políticas? Apesar disso, quem consegue pagar o dentista, a modista, a diarista, a casa própria e outros-que-tais com um salário de professor? A classe é desunida ou está em perpétuo susto? Ficamos vendo os Governos economizar em nossos salários, as Escolas Particulares, em geral, ligadas a grandes instituições com estabilidade financeira, destaque social, economizando no salário de seus professores. Não temos como evitar pensar nas palavras escravidão, assédio moral, violência, exclusão porque o Sistema, na verdade, aterroriza. Eu já tive a experiência de não fazer uma greve por medo. Eu tinha voltado ao Magistério Público Estadual, estava no tal estágio probatório e tive medo. Eu sustentava minha família, eu não poderia ficar sem emprego. Conto isso porque não estou escrevendo com alguém que se coloca como superior. Eu tenho medo de não poder sustentar minha família com minha profissão. Saí da iniciativa privada humilhada por uma demissão. Diferenças da Escola com meu método de ensinar. Então, quando se fala em dinheiro, não é só dinheiro moeda, é dinheiro que gastamos em mais uma porção de batata frita, em doce, em paracetamol, em antidepressivo. É o conjunto da obra que ataca o coração do professor que é terrível. Se fosse para falar em desrespeito por parte dos alunos, humilhação perante pais mimados, coação por parte de colegas em posições de mando, desconsideração por projetos e idéias, sinceramente, quem iria querer ser professor?
Nós. Nós queremos ser professores. Nós que somos filiados ao CPERS, filiados ao SINPRO. Nós que delegamos aos nossos Sindicatos essa tarefa árdua de enfrentar essas feras em nosso nome. Nós que não desistimos de mexer na pirâmide. Nós que fazemos a diferença, nós para cujos espaços depois de abertos não existem peças de reposição porque somos únicos, cada um de nós, ímpares em seu universo de luta e pares dentre os seus.
SINEPE/RS (sindicatos do Ensino Privado), escuta! Queremos reajuste salarial com aumento real para a categoria, Já. 28 de março, segunda-feira, Dia do Aumento Real na Escola, manifestações nas instituições de ensino privado de todo o Estado reforçando a reivindicação por aumento real, e mais, limitação do número de alunos por turma (presencial e a distância); calendário escolar 2011 com a indisponibilidade do professor nas duas últimas semanas de julho; destinação de 30% da carga horária para atividades extraclasse; contratação de professores para as atividades extracurriculares.
Companheiro TARSO, o que é isso, companheiro? Aumento real em R$ 38,00 para quem ganha o básico? Essa proposta de reajuste salarial de 10,91% apresentada à direção do Cpers/Sindicato não satisfaz a categoria. Magistério Público Estadual, já! Assembleia Geral, dia 08 de abril e a luta continua!
E para não dizerem que não falei na UERGS, mais professores começam a se evadir de nossa Universidade por falta de condições profissionais compatíveis com suas formações. Precisamos estar sempre alertas em relação ao nosso Plano de Carreira, que ainda não está na pauta principal do Governo do Estado. Precisamos estar vigilantes a respeito de nossos colegas funcionários, cujos vencimentos, em determinados casos, estão abaixo de um salário mínimo. Precisamos socorrer nossos alunos, com sustentabilidade e assistência, como se espera de uma Instituição Pública. ADUERGS e ASSUERGS: Plano de Cargos e Salários e a abertura das vagas para atender o limite de 300 professores e funcionários, Já!
Políticas pedagógicas, paz mundial, construção das mais diversas áreas do conhecimento, missão e bom combate, que fácil reposição, que nada! O Sistema que se cuide, transformação de realidades e resistência é o nosso ramo de negócios.

* Mestre em Comunicação Social, Professora da UERGS

Fonte do texto:
Fonte da imagem: bohney.com.br

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia do Blogueiro

Parabéns a todos nós, que fazemos da Internet uma ferramenta de união entre todos os povos do planeta, e os blogs, o meio de comunicação mais democrático e livre que existe (pelo menos por enquanto!). Tânia Marques

domingo, 20 de março de 2011

Dia Mundial do Teatro

Artaud - O artesão do corpo sem órgãos

CONTEÚDO INTEGRALMENTE PUBLICADO NO BLOG REVISTA POLICHINELO
E REPUBLICADO AQUI COM TODOS OS DIREITOS AUTORAIS E OS 
DEVIDOS CRÉDITOS AO DONO DO BLOG CITADO.
Daniel Lins, filósofo e psicanalista, organizador do Simpósio Nietzsche/Deleuze. Autor de vários livros, dentre eles, “ARTAUD – o artesão do corpo sem órgãos” (que terá, no primeiro semestre de 2011, reedição pela editora Lumme). Lins é dono de um estilo excitante, marcante pela forma explosiva e inquietante de pensar. Nesta entrevista, concedida a Miguel Ângelo Oliveira do Carmo, fala sobre Antonin Artaud.

1. Pergunta: Podemos começar por uma singular pergunta, e me vejo obrigado a fazê-la no presente: Quem é (e não quem foi) Antonin Artaud?

Daniel Lins: "Quem sou? De onde venho? Eu sou Antonin Artaud e basta dizê-lo (...)" Artaud é um gênio... Quer dizer: UM DEFEITO DE FABRICAÇÃO!

2. Pergunta: Seu novo livro traz uma seleção de textos sobre Artaud (Antonin Artaud, o artesão do corpo sem órgãos - Lumme/2011). Sua estratégia, parece-me, não era escrever um livro sobre ele, mas experimentá-lo em vários campos do saber: teatro, linguagem, poesia, escrita, cinema, etc. Fale-me sobre esta experimentação.

Daniel Lins: Não creio ser possível falar sobre Artaud sem perpetrar, uma vez mais, o rapto de Artaud. Como falar sobre Artaud, autor por excelência da vida e de uma escrita "ilisível". Como ler o ilisível sem se deixar atingir pela dose de angústia presente em toda incompreensão textual? Evoca-se, às vezes, a respeito da escrita contemporânea um verdadeiro trabalho de "desligação" ou contra-ligação, um ataque contra os laços psíquicos do leitor. Como a pintura não figurativa, ou a música serial, a escrita moderna parece repelir com desdém ou violência alguém que pousa sobre a obra de arte um olhar amoroso. Não é, contudo, um pacto amoroso secreto que nos liga a Artaud e a sua escrita reputada ilisível? Não é uma relação de leitura mais complexa e labiríntica, sem cessar pronta a se romper e, recomeçar, sempre? E sempre experimentar ao invés de falar sobre? O que nos promete, finalmente, a leitura de autores ilisíveis como Artaud, por exemplo? Um arrebatamento, quando não uma comoção de nossas lógicas, ofuscante transbordamento de sentido, leituras infinitas, gravidezes não desejadas. Como assim? Por quê? Porque este contato é doloroso, louco; contato com uma escrita dolorosa, louca; uma escrita-outra que abre um espaço de leitura diferente e impede a interpretação que tanto mata quanto salva. Experimentar, eis a que Artaud nos condena...

3. Pergunta: Artaud, muitas vezes se disse, "o suicidado pela sociedade". A este, no campo da literatura, é possível ver também o suicídio da palavra?

Daniel Lins: Creio que sim, sobretudo quando a palavra é algo que não diz mais nada, é algo totalmente esvaziado de sentido, nutrida apenas pelos signos em forma de representação e repetição do mesmo. Criar outra palavra, era isso que queria Artaud: uma palavra regada pelo sangue e pela merda numa mescla de escatologia divina e estupro do sagrado. Criar, é disso que se trata: o suicídio da palavra anuncia o estupro... ora toda criação parte do nada... portanto, o estupro é parte integrante de toda criação. O suicídio da palavra aparece em Artaud como uma abertura de campos e pulsação vibrátil, lugar possível para a emergência de uma ética da crueldade engendrada por um pensamento constituído como uma terrível e inelutável necessidade...

4. Pergunta: A escrita de Artaud é criativa, profunda, efervescente, enfim, uma escrita que atravessa o corpo (escrita-corpo) e o prazer (escrita-prazer). Como ler tal escrita?

Daniel Lins: Como ler o ilísivel? Como dizer o indizível de tal escrita? É preciso inventar outro corpo, outro habitus... Tal é a herança da escrita da crueldade: existiria uma inocência da crueldade? Por que nosso maior desejo deseja sempre o que nos destrói? Não encontramos nos textos de Artaud pontos de apoio, suporte identitário, o conforto das leituras "típicas ": - Um dia, então, o pobre José, pedreiro devotado, que freqüentava o cais do porto e convivia com prostitutas e assistentes sociais, descobriu que era traído! A escrita romanesca tradicional repousa na transfiguração narrativa desse "romance familiar" sobre o qual Freud postula a existência no imaginário infantil e que ressurge nos textos narrativos sob a versão realista ou sonhada. Ora, nada de semelhante aparece nos textos de Artaud, sobretudo nas suas últimas obras as identificações edipianas do "romance familiar" voam em estilhaços. O texto de Artaud permanece letra morta, outro nome do ilisível, se o sujeito que os lê recusa de nele se perder, de abandonar provisoriamente suas referências subjetivas para entrar no processo de dissolução das identidades que tal texto impõe. Ninguém pode sair indene de tal leitura, se se lê realmente. Artaud não confunde nossas práticas de leituras mas propõe, no seio mesmo de sua escrita, uma reflexão sobre a recepção de todo texto literário.

5. Pergunta: Realmente Artaud propôs retorcer o pensamento, se livrar de uma escrita significante; com isto, quer se manter a folha em branco ou se criar novos sentidos?

Daniel Lins: Não, não existe "folha branca" em Artaud, mas sempre toneladas de folhas escritas, não necessariamente com a tinta, mas com a merda, o esperma, a saliva, as lágrimas, os gritos líquidos e abafados da escrita-louca. Sua escrita, contudo, é marcada não apenas por "novos sentidos", mas por uma gramática de vida que sabe usar o perfume da morte para enganar os enganadores... Ou seja, em Artaud o vazio é sempre pleno: a morte, ao contrário da folha branca-morta, é sempre habitada por forças que encontram na vontade de potência seus significados móveis desconstruindo, assim, universos petrificados, "mumificados" e anunciando, por meio da crueldade, a potência do acontecimento: o rapto do espírito bem instalado.

6. Pergunta: Deleuze dizia que é preciso ser estrangeiro em sua própria língua. Artaud não foi só estrangeiro em sua própria língua, mas em várias: a linguagem teatral, poética, etc. Com este processo, visava fazer-se estrangeiro de si próprio?

Daniel Lins: Não diria simplesmente que ser estrangeiro na sua própria língua significa poder ir além de um sujeito historicamente instituído engendrando sujeitos e línguas segundo uma lógica dos fluxos e não da genealogia, da cartografia dos desejos e não da geografia que marca corpos e estratifica identidades construindo sujeitos próteses. Ser estrangeiro na sua própria língua é também recusar as palavras e a língua impostas como herança ou como "doença", como ferida da língua. É preciso gaguejar em sua própria língua... ou seja, recusar uma língua-prisão, recusando ao mesmo tempo uma "língua pensada para mim" que faz da palavra uma prisão.

7. Pergunta: O corpo sem órgãos (CsO), sem organicidade. Como entender esta falta, a partir de Artaud, perante a vida?

Daniel Lins: Leia meu livro acima citado, leia Deleuze, leia Artaud. Diria apenas, e no limite desta conversa virtual, que em Artaud não se trata jamais nem de falta nem de excesso. E a vida é uma invenção humana regida pela ética da crueldade que encontra sua energia positiva no "corpo sem órgãos", máquina para produzir o real. Apesar de seus sofrimentos, apesar de ter sido raptado pelo divino, Artaud sempre deu a impressão de acreditar no corpo. Sua revolta não era contra o corpo mas contra os órgãos colados, como uma doença, no corpo. Ele percebeu que nossos órgãos e nossa carne eram obstáculos essenciais contra o corpo. Para ele, o corpo não era uma evidência para o homem, ou uma "sabedoria", mas uma conquista, uma invenção possível. O corpo não está doente, mas os órgãos são uma doença. Construir um corpo sem órgãos é para Artaud uma maneira de escapar a ilusória identidade do sujeito, contra esta identidade e este sujeito Artaud quer acordar no seio do corpo uma crueldade viva e libertadora. Expulsar Deus de seu corpo e poder, assim, encontrar seu verdadeiro corpo, seu corpo bilíngüe, plural, seu corpo sem órgãos.

FONTE DO POST ACIMA: 

domingo, 13 de março de 2011

Pink Floyd - Another Brick in the Wall - Partes 1 e 2


" (...) E a educação, por sua vez, uma declaração da incompetência social das massas e uma aposta na ditadura do "professorado" (déspotas ilustrados), guardiões da razão, das maneiras e do bom gosto. Não é de se estranhar, portanto, que Bauman, nesse livro, tenha concebido a educação escolarizada como o conceito e a prática de uma sociedade amplamente administrada".



[...] é ensinar a obedecer. O instinto e a vontade de acatar, de seguir as ordens, de fazer o que o interesse público, tal como o definem os superiores, exige que se faça, eram as atitudes que mais necessitavam os cidadãos de uma sociedade planificada, programada, exaustiva e completamente racionalizada. A condição que mais importava não era o conhecimento transmitido aos alunos, mas a atmosfera de adestramento, rotina e previsibilidade em que se realizaria a transmissão deste conhecimento. [...] O tipo de conduta que concordaria com o interesse público seria determinado pela sociedade previamente a toda ação individual, e a única capacidade que os indivíduos necessitariam para satisfazer o interesse da sociedade era a da disciplina. (Bauman, 1997, p.108)
[...] Bauman retoma essa interpretação da educação escolarizada como fábrica da ordem, destinada à produção de corpos dóceis, disciplinados e eficientes, e a analisa levando-se em conta a "transição da modernidade sólida à modernidade líquida [...]. 
Referências: Bauman & a Educação

Mikhail Bakunin: frases e pensamentos

"Quem quer, não a liberdade, mas o Estado, 
não deve brincar de Revolução."
"As pessoas vão à igreja pelos mesmos motivos que vão à taverna: para estupefazerem-se, para esquecerem-se de sua miséria, para imaginarem-se, de algum modo, livres e felizes."

"A liberdade do outro estende a minha ao infinito."

"A emancipação econômica deve ser a mãe de todas as outras emancipações."
"É melhor a ausência de luz do que uma luz trêmula e incerta, servindo apenas para extraviar aqueles que a seguem."



Fonte da segunda imagem:
Fonte da terceira imagem:

sexta-feira, 11 de março de 2011

The edukators - Hallelujah

Assisti duas vezes a este filme, The edukators... ameeei! Hallelujah é  uma música muito linda, embora na sua tradução a letra seja voltada a Deus, traçando um paradoxo entre o tema do anarquismo e a religião, mas ficou muito bem colocada em duas principais cenas do filme. Aqui o vídeo foi montado apenas com as cenas de amor entre dois dos três protagonistas. O filme é muito mais que isso. Neste vídeo houve uma diluição, um reducionismo da sua temática política. Pra quem ainda não o viu, não perca tempo.



O filme “The Edukators” (Os Edukadores), direção de Hans Weingartner, com Daniel Brühl, Julia Jentsch, Stipe Erceg e Burghart Klaußner, faz alusão ao Anarquismo. Esse filme constitui-se numa metáfora pós-moderna dos ideais revolucionários de três jovens sonhadores. Inicialmente dois japazes rebeldes e conscientes politicamente da exploração econômica do homem pelo homem decidem agir a favor da transformação social. Logo após, há a adesão de Jule, namorada de Petter, ao grupo, uma garota que tinha de pagar judicialmente uma dívida monstruosa relativa a uma batida de carro. A lógica é esta: não se renderem ao sistema. Iniciar uma "revolução", antes de tudo, interna; acreditar na igualdade de condições entre as pessoas. Para isso, exercem militância política, distribuem panfletos e apresentam um discurso transparente, perpassando nele opiniões contrárias às dos donos dos meios de produção, ou seja, seus argumentos são explicitamente contra a exploração do homem pelo capital e de tudo que o sistema capitalista espolia do ser humano, principalmente o roubo da infância pelo trabalho infantil, o egoísmo,  o individualismo, o cunsumismo, etc. Sua prática notívaga resume-se à invasão de mansões luxuosas, obviamente na ausência de seus moradores, com o intuito de “detonar” todos os móveis e objetos internos das moradias, sem a sua apropriação para venda, sem roubá-los. No final da implantação do “caos” nas residências, esse grupo deixa seu rastro através de mensagens assinadas como “Edukators”. A finalidade é a de promover a insegurança em seus moradores e mostrar que eles podem fazer uma certa "pressão social" por meio da destruição desses bens de consumo.  Como sabemos, esse belo gesto revolucionário não torna menos ilícita a sua prática numa sociedade capitalista, uma vez que a própria incursão clandestina aos imóveis é considerada um ato criminoso diante das leis vigentes na Alemanha ou em outro país qualquer do mundo imperialista. Na verdade, esta é uma prática que pretende chamar a atenção dos burgueses em relação ao luxo, ao supérfluo, às suas convenções sociais, ao consumismo desenfreado. O filme, em certa medida, é uma faca de dois gumes, e seus personagens adentram num campo onde a propriedade privada, os direitos alheios, os privilégios, os direitos e deveres sociais e as injustiças são questionados filosoficamente. Digamos, que os personagens são corajosos e bem intencionados, porém ingênuos diante da ferrenha defesa do deus-capital-social. Ficam nítidos o combate ao consumismo e à desigualdade de renda na sociedade. Eles  voam como borboletas libertárias coloridas num jardim  cinzento plantado em nome do lucro.  Arriscam  as suas próprias vidas em nome de seus sonhos, ignorando o universo de atitudes decorrentes e inesperadas de cada ação. Só temos que cuidar para não interiorizarmos aquela mensagem subliminar que está disseminada na sociedade, isto é,  o clichê de que os anarquistas só fazem bagunça, barulho e terrorismo. O filme passa uma mensagem de inconformismo e de mil possibilidades no que se refere à descoberta das fendas do sistema e de sua penetração política para uma mudança significativa: aquela que parte da atitude concreta, da ação direta de cada um de nós.

Tânia Marques 04/08/09

Não adianta - Sérgio Sampaio & Raul Seixas



quinta-feira, 10 de março de 2011

Globalização: as consequências humanas (Zygmunt Bauman)

Arte, por Amauri Ferreira

O artista se alimenta de imagens e de afetos para materializar suas idéias na sua obra. Ele parte do que é efetuado para, através da experimentação, criar algo capaz de engendrar novas imagens e sensações naquele que frui uma obra sua. Desse modo, a arte serve às mais elevadas necessidades da vida humana. Não há nada para ser interpretado, nada para ser julgado, pois, afinal, a natureza é inocente demais para ser julgada. A obra de arte é para ser sentida, experimentada, para provocar os indivíduos a sentirem de outro modo, para conhecerem novas imagens, para agirem de acordo com suas tendências, interrompendo temporariamente a ordem parasitária dos seus corpos – assim eles são coagidos, através da arte, a considerar presentes estranhas sensações que mudam a vida deles para sempre. Certamente, não cabe nenhum discurso inflamado, mas outra coisa que acontece de modo subterrâneo: revolução. A arte sempre foi revolucionária – e sempre será, por isso ela é tão indesejada pelos horrorosos homens de poder. Ela liberta pensamentos, atrai os indivíduos para uma face da realidade que é ignorada enquanto estão habituados a julgar a vida a partir das imagens e afetos que têm consciência. Mas ao contrário de quem julga, o artista faz das imagens e dos afetos os seus alimentos para que suas obras possam permitir que o homem comum conheça essa face da realidade que é anterior à imagens, isto é, a face da produção ininterrupta das coisas que temos consciência. O encontro com a obra de arte ativa forças desconhecidas no homem e por isso ela é sempre necessária em cada dia que vivemos. 
Texto publicado no blog Utopia e Vida, em 10 de março de 2011

Entrevista concedia a Jorge Bichuetti, do blog Utopia Ativa

1. A vida pulsa e encanta... é lágrima e risos, feridas e esperanças... vivendo sua vida, de mulher e educadora, pergunto-lhe: o que pode na vida, na poesia e na arte?

Bem, sinto-me lisonjeada de ter sido uma das pessoas escolhidas para responder a estas inteligentes e instigantes perguntas. Bem, como mulher, embora tenha sofrido na pele muitas consequências tristes do meu entorno familiar, sinto-me uma pessoa madura, porque soube tirar sempre ótimas lições de vida, tanto das situações boas quanto ruins, mas refletindo principalmente acerca dos acontecimentos negativos, entendendo que são os momentos difíceis que nos impulsionam a busca de saídas, ao crescimento como um todo. Eu me considero uma pessoa feliz, encantada com a vida e com um espírito muito jovem. Como educadora, amo o que faço, e isso já estabelece a diferença entre tantos professores que exercem as suas atividades com repulsa ou insatisfação. Tenho consciência plena da nossa desvalorização profissional, por isso, durante muitos anos, fui uma ativista, uma militante sindical. No entanto, hoje a minha militância se restringe muito mais à sala de aula. Acredito indubitavelmente que não podemos desistir da luta, não somente da luta por melhores salários e condições de trabalho, mas pela construção [construção não é reforma] de um mundo mais igualitário, em que a escola não se resuma a mal preparar seus alunos para o mundo trabalho, incentivando neles a competição, docilizando-os, inibindo seus corpos, policiando seus pensamentos, violando as suas vontades e impedindo a liberação das suas potencialidades criativas. O que pode na vida? Prefiro responder ao contrário, o que não pode na vida? Fome, miséria, desigualdade social, violência de qualquer tipo, injustiças, violação dos direitos humanos, crimes, guerras, drogas, falta de amor, acidentes de trânsito, desmoronamentos, tsunamis, discriminações de qualquer espécie, analfabetismo de letramento, funcional e político, ausência de lazer, corrupção, exploração, fanatismo, sistemas totalitários, censura, homofobia, xenofobia, assédio moral, assédio sexual, seqüestros, tristezas, enfim ficaria enumerando uma lista enorme de atitudes negativas e monstruosas, diante de tudo o que vemos acontecer todos os dias no mundo. O que pode na arte e na poesia? A livre expressão dos sentimentos, da emoção, dos desejos, do prazer, do amor, da criatividade, da originalidade, do sonho, do engajamento político. O registro de um mundo colorido, a luta, um beija-flor, a vida, um estado de alma, a paz.

2. Se alguém lhe perguntasse, assim, de pronto, quem é o jovem dos nossos dias?

O jovem dos nossos dias, dependendo do seu universo familiar, classe social, tribo em que se encontra, é alguém que está preso ao consumismo, às grifes, à tecnologia, à reprodução do sistema, à violência, à alienação política, a futilidades, às drogas, ao tráfico, aos vícios, aos assaltos, à depressão, à passividade, à competição. Porém, deixando de lado esses aspectos citados de maneira um tanto maniqueísta, o jovem de hoje é alguém que não tem consciência das suas potencialidades, ele precisa se inventar, se descobrir como agente da paz e do amor, pois vive egoisticamente voltado para o “ter” e não para o “ser”, via globalização mass media. Isso por que ele vive num meio que o pressiona, que cobra dele este papel de “bem sucedido economicamente”. Esse jovem é aquele que cultua a beleza física, a silhueta esbelta, os músculos bombados, em detrimento do conhecimento de si mesmo e do saber científico e da espiritualidade. Infelizmente, ele acaba reproduzindo tudo isso sem ter tido a oportunidade de experimentar o outro lado, o do sonho, o da utopia por um outro mundo possível, solidário, fraterno, libertário. Claro, não podemos generalizar, seria uma falácia dizer que todos os jovens são iguais. Há os que lutam, há os incompreendidos e os rebeldes, há os insatisfeitos, mas nos resta saber pelo que eles lutam. Eles não têm culpa de estarem “anestesiados”, afinal de contas, a maioria deles foi criada por uma babá eletrônica chamada televisão, e hoje dedica uma grande parte do tempo de suas vidas ao computador. Atualmente, muitos jovens deixam também de trilhar caminhos vanguardistas em função da própria violência social, que os aprisiona em casa; por conseguinte, acabam conhecendo apenas a realidade virtual.  Então, a juventude atual precisa aprender a se perceber singular, para que não seja cooptada pela globalização, e a enxergar a sua própria subjetividade como um instrumento de transformação do mundo em um lugar de muita paz.

3. O que necessitamos para que a educação seja capaz de ser um espaço do devir?

Bem, necessitamos de professores conscientes desta possibilidade, ou seja, a de fazer da sua sala de aula um espaço de ruptura com a alienação, de um professor que aproveite todas as brechas que o próprio sistema deixa, para ativar a capacidade de os alunos construírem importantes devires e a se reconhecerem como agentes desse processo. Igualmente, os alunos também terão de estarem receptivos ao novo, à descoberta de si, ao cuidado de si, aprendendo a se construírem ao mesmo tempo individual e coletivamente, respeitando o ritmo da caminhada de cada um, se permitindo errar e acertar, pensando a vida sempre como um processo de “vir a ser” melhor.

4. Vivemos como nossos pais?... O que os pais poderiam fazer para diminuir a distância entre eles que cuidam e os filhos que almejam se inventarem?

Como mãe, posso afirmar que, em última instância e em alguns aspectos, nós acabamos vivendo como nossos pais, pois estes se constituem desde cedo modelos, referências para nós. Foram eles que nos educaram, eles que nos formaram ou mesmo “deformaram”. Nesta pergunta fica nítida a questão do “conflito de gerações” que acaba por distanciar as visões de mundo entre pais e filhos e, por conseguinte, tudo o que poderia surgir de bom nessa relação. Por haver uma tendência natural à preservação dos filhos, muitas vezes, os pais se colocam como pedras no caminho deles, impedindo seu crescimento através do boicote de experiências, de novas vivências. Contudo, essa é apenas uma visão, pois há também pais que se colocam diante dos filhos numa posição de irmãos mais velhos, metaforicamente falando. Então, há os que limitam demais seus filhos e outros que são totalmente permissivos, e ainda querem ser como eles na aparência e no comportamento. Nem oito nem oitenta. Há que se ter bom senso, respeitar as distâncias diferentes entre a trajetória de vida e o aprendizado de pais e filhos numa sintonia de amor, cuidado, carinho e liberdade para que estes últimos tenham a chance de se perceberem diferentes ou até mesmo uma extensão de seus pais, mas isso só acontecerá por meio da liberdade de suas escolhas, de suas potencialidades e devires.

5. O amor flui e contagia... O amor anda  fora de moda neste mundo neoliberal?

O amor fora de moda não digo, mas diferente dos tempos modernos, em que as coisas eram duradouras, e a hora custava muito a passar no relógio. O amor nos tempos pós-modernos, como afirma Bauman, é líquido, volátil, não cria vínculos nem laço afetivos. Vinícius já dizia: “Que seja eterno, enquanto dure”. Num mundo neoliberal, onde tudo vira mercadoria, aproveitando a deixa de Bauman, o amor entre duas pessoas se esvai rapidamente, tem prazo de validade e, geralmente, ecoa no vazio existencial. Para mim, que tenho como referência um ideal de relacionamento amoroso, baseado no respeito às liberdades individuais e no companheirismo, há uma certa dificuldade para eu conviver com alguém num ritmo frenético de mercadoria descartável, pois não me vejo assim, tampouco me considero uma pessoa  psicologicamente instável. Por outro lado, o amor no sentido de que a humanidade necessita está carente de ideais, de ternura, de carinho, de motivos para existir, ocasionando a violência, a desunião e a competitividade entre todos.

6. O sonho acabou?... O socialismo já é um sonho arquivado?...

Para mim, o sonho não acabou. Uma vez fecundadas as sementes da igualdade, da solidariedade e da fraternidade dentro do coração da gente, o tempo passa e apenas os meios de se fazer a revolução mudam. Não acredito em mudança social significativa, sem antes termos feito a nossa reforma íntima, a nossa libertação dos estereótipos vigentes em nossa sociedade. Podemos multiplicar ideias, pois, como educadora, sei que também sou formadora de opiniões, é um trabalho de formiguinha. Se ele vai nos levar ao socialismo? Não sei, sei apenas que o terreno para ele chegar estará fértil através daqueles que multiplicarem as nossas utopias.

7. Utopia Ativa, diga algo, o que desejar, para nossos amigos que lhe encontram neste blog...

Com relação ao blog Utopia Ativa e à amizade recém-nascida com o Jorge Bichuetti, mas que para mim parece ser de longa data, eu posso afirmar que estou encantada. O Jorge é uma pessoa extremamente sensível e consciente da origem dos problemas sócio-afetivos, políticos e econômicos em nosso país e de nossa gente. No blog eu encontro o registro inteligente dessa sensibilidade e os caminhos, as possíveis soluções para a construção de um mundo melhor. Eu me sinto potencialmente nutrida intelectualmente e amparada afetivamente por suas carinhosas palavras. Parabéns, Jorge, pelo belo blog e pela tua competência ao dar o teu recado.
 Entrevista concedida a Jorge Bichuetti, do blog Utopia e Vida
09/03/2011

terça-feira, 8 de março de 2011

Perfil Psicológico de Mulheres Vítimas de Violência

Escrito por Lucimeire Cândida
Seg, 07 de Fevereiro de 2011 07:23


PERFIL PSICOLÓGICO DE MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA


A violência contra a contra mulher é uma questão social e de saúde pública que consiste num fenômeno mundial que não respeita fronteiras de classe social, raça, etnia, religião, idade e grau de escolaridade. Atualmente e em geral, não importa o status da mulher, o lócus da violência continua sendo gerado no âmbito familiar, sendo que, a chance de a mulher ser agredida pelo pai de seus filhos, ex-marido, atual companheiro, é muitas vezes maior do que a de sofrer alguma violência por estranhos.

Diversos são os problemas decorrentes desse tipo de violência, como taquicardia, depressão, insônia, pressão alta, palpitação e até as DSTs que são sintomas comuns apresentados por mulheres vítimas da violência doméstica, porém que dificilmente são atrelados pelos médicos dos prontos socorros a esse motivo. Se os prontuários médicos adotassem o quesito “violência de gênero”, seria mais fácil diagnosticar o cerne da questão. Sendo assim, a maioria das vítimas ainda não se sente à vontade para explicar o real motivo de suas queixas, e por isso perambulam de um hospital para o outro. Doenças sexualmente transmissíveis, doenças pélvicas inflamatórias, gravidez indesejada, aborto espontâneo, dores de cabeça, doenças gastrointestinais, hipertensão e outras doenças crônicas, além de comportamentos danosos à saúde, como fazer sexo inseguro, abusar de drogas e do álcool têm uma incidência bastante alta nas mulheres que vivem em situação de violência. Surgem ainda transtornos psíquicos como depressão, ansiedade e suicídio Portanto, não basta garantir o atendimento à saúde. É necessário o resgate da cidadania e dos direitos humanos das mulheres tais como o reconhecimento de seus direitos sociais, econômicos, civis e políticos. Muitas mulheres afirmam já terem sofrido algum tipo de agressão e muitas dizem ter consciência de que seus agravos de saúde estão associados à violência, mas nunca conversam com ninguém sobre o assunto.

O sofrimento das mulheres vítimas de violência traz graves consequências à  sua saúde física e mental, podendo ser responsável pelo desenvolvimento de depressão e fobias. Mulheres que vivem com parceiros violentos encontram dificuldades para cuidar de si próprias, procurar emprego, estudar e desenvolver formas de viver com conforto e autonomia, contribuindo ainda mais para seu sofrimento psíquico e social. Fica então que, em relação aos aspectos econômicos, as mulheres em situação de violência perdem com mais frequência o emprego, têm mais dificuldades em negociar aumentos salariais e promoção na carreira profissional, principalmente por ficar em dúvida com relação ao que seu parceiro irá pensar de sua promoção. São inúmeros os prejuízos também causados às crianças que de um modo geral assistem às cenas violentas entre os pais, que podem ser também diretamente afetadas e sofrem consequências emocionais, como ansiedade, depressão, baixo rendimento escolar, baixa autoestima, pesadelos, etc.

A insegurança pessoal, a baixa autoestima, a depressão e os problemas de personalidade podem levar à conduta violenta. Há vários estudos que mostram uma evidente relação entre o consumo excessivo de álcool e a violência, embora não esteja claro se beber desencadeia o problema ou serve de justificativa. Entre os casos de agressões físicas, pelo menos um terço é de abusos sexuais, um problema que, para muitas destas mulheres, começa na infância ou na adolescência. A violência entre os casais deixa várias sequelas, entre elas, além dos traumatismos, problemas gastrointestinais, dores crônicas, depressões e comportamentos suicidas.

Acredita-se que há uma série de fatores de risco entre os homens mais propensos a abusar de suas mulheres como a existência de antecedentes de violência familiar, especialmente se eles mesmos foram agredidos quando eram crianças. Dezenas de milhares de mulheres sofrem todo ano de violência sexual nos serviços de saúde, como assédio sexual, mutilações, exames ginecológicos forçados e controle de sua virgindade.

O relatório da OMS afirma ainda que, embora seja importante reformar os sistemas jurídicos e policiais para tratar o problema da violência contra a mulher, estas medidas são ineficazes se não são acompanhadas de mudanças culturais e nas práticas institucionais. A violência doméstica e o estupro são considerados a sexta causa de anos de vida perdida por morte ou incapacidade física em mulheres de 15 a 44 anos – mais que todos os tipos de câncer, acidentes de trânsito e guerras. Sendo assim, é um tema que merece total atenção, porque, pode acarretar consequências emocionais aos filhos que testemunham a violência.

As mulheres que relatam terem sofrido violência doméstica apresentam formas combinadas de agressões físicas, como nódoas negras, fraturas, queimaduras, marcas de tentativas de estrangulamento, golpes provocados por instrumentos cortantes, etc. Quanto às agressões psicológicas retratam como sequelas medo, isolamento afetivo, dependência emocional, sentimentos de culpabilidade e quadros depressivos.

Dessa forma, nossa proposta foi verificar a ocorrência de depressão e a presença de algum traço de personalidade que pudessem comprometer a saúde das mulheres vítimas de violência doméstica que decidem permanecer na relação conflituosa, de agressão. As mulheres agredidas e que permanecem no vínculo conjugal são mais propensas à depressão, exprimindo sentimentos de solidão, tristeza, desamparo, descrença, irritação, baixa autoestima e baixa autoconfiança, não conseguindo assim se perceber e nem desenvolver a autoeficácia, formando assim, um círculo vicioso: as mulheres agredidas que permanecem com os companheiros agressores tornam-se frequentemente, agressivas, o que leva os casais a terem um dia a dia cada vez mais violento, em que os conflitos se multiplicam e se intensificam.

By Lucimeire Candida \ Trabalho apresentado à Escola de Enfermagem Florence Nightingale, ao curso de Qualificação Profissional de Enfermagem \ Perfil Psicológico de Mulheres Vítimas de Violência.

Texto publicado no site Texto Livre
Fonte da imagem: viaes.com.br

sexta-feira, 4 de março de 2011

Devir

Devir é um conceito filosófico que qualifica a mudança constante, a perenidade de algo ou alguém. Surgiu primeiro em Heráclito e em seus seguidores; o devir é exemplificado pelas águas de um rio, “que continua o mesmo, a despeito de suas águas continuamente mudarem.” Devir é o desejo de tornar-se. Recebe também a acepção Nietzscheriana do "torna-te quem tu és", usada em um dos seus escritos. Traduz-se de forma mais literal a eterna mudança do ontem ser diferente do hoje, nas palavras de Heráclito:"O mesmo homem não pode atravessar o mesmo rio, porque o homem de ontem não é o mesmo homem, nem o rio de ontem é o mesmo do hoje". O devir é a lei do mundo.Os fenômenos se repetem,é verdade,mas não se repete o mesmo fenômeno: o raio de hoje é sempre um raio, mas não é aquele de ontem; os seres viventes são sempre classificáveis em espécies, mas os seres que vivem hoje não são mais aqueles do passado. Aliás, cada coisa jamais é a mesma; dia a dia perde e conquista algo, mesmo quando aos nossos olhos ela desapareceu para sempre.

Fonte: Wikipédia

Sejamos, portanto, devir-amor, devir-revolução, devir-paz, devir-vida, devir-rebeldia, devir-companheirismo, devir-criança, devir-alteridade, devir, devir...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Desterritorialização



Desterritorialização é, nas palavras de Gilles Deleuze, uma "palavra bárbara" proposta por Felix Guattari para o entendimento de processos inicialmente psicanalíticos mas posteriormente ampliados para toda a filosofia desenvolvida pelos dois autores, especialmente na obra Mil Platôs.

Para além da concepção filosófica deleuzeana, em que aparece associada a processos como devir e "linhas de fuga", a expressão insere-se hoje em um amplo debate no âmbito das Ciências Sociais, da Antropologia à Ciência Política e à Geografia.

Assim, muitos autores defendem a tese de que a desterritorialização é a marca da chamada sociedade pós-moderna, dominada pela mobilidade, pelos fluxos, pelo desenraizamento e pelo hibridismo cultural. Devemos tomar cuidado para não sobrevalorizar esta "sociedade em rede" (nos termos de Manuel Castells), fluida e desterritorializada, na medida em que ela aparece sempre conjugada com a reconstrução de territórios, ainda que territórios mais móveis e descontínuos.

Haesbaert (em "O Mito da Desterritorialização") defende que desterritorialização seja um termo utilizado não para o simples aumento da mobilidade ou para fenômenos como a hibridização cultural, mas para a precarização territorial dos grupos subalternos, aqueles que vivenciam efetivamente (ao contrário dos grupos hegemônicos) uma perda de controle físico e de referências simbólicas sobre/a partir de seus territórios. Já que todo indivíduo não pode viver sem território, por mais precário e temporário que ele seja, desterritorialização pode se confundir, neste caso, com precarização territorial. Assim, haveria um sentido genérico, de desterritorialização como destruição ou transformação de territórios (enquanto espaços ao mesmo tempo de dominação político-econômica e de apropriação simbólico-cultural), e um sentido mais estrito, vinculado à precarização territorial daqueles que perdem substancialmente os seus "controles" e/ou identidades territoriais.

O que muitos denominam desterritorialização, especialmente quando relativo às classes mais privilegiadas, trata-se na verdade de uma reterritorialização em novas bases, a que Haesbaert propõe denominar "multiterritorialidade".

Fonte do texto: Wikipédia