quinta-feira, 21 de abril de 2011

Movimento e devir-minoria

Faz parte de um equívoco cultural dos sentidos que se creia que o conceito de movimento se refira somente à alteração do espaço ocupado pelos corpos num tempo medido. Saiu daqui pra lá. Ou de lá pra cá. No entanto, no plano das intensidades, só há movimento quando há devir. Quando as composições materiais (corpos) e imateriais (idéias e afecções) entram numa configuração (encontros) que altere a produção da existência e abra espaço para o surgimento do Novo.

E é no sentido do movimento como devir que os filosofantes Gilles Deleuze e Félix Guattari apreenderam na configuração da subjetividade capitalística algumas linhas desestabilizantes: cortes no bloco rígido do existir no capital, no sucesso, no “american dream” embalado e traduzido em todas as línguas do mundo. O que foge ao padrão de consumo do capital é considerado outsider, e portanto é tratado pela Sociedade de Controle como marginal (à margem). Um negro, uma mulher, uma criança, um animal, por existirem fora da nomeação e da pontuação temporal-normatizante da “boa sociedade”, podem constituir, com seu modo de existir, um foco de estranhamento àqueles que, por jamais experimentarem algo fora, não podem saber que estão dentro. Estas categorias, por serem consideradas diferentes, são chamadas de minorias.

Claro que para engendrar movimentos intensivos, não basta por si só ser negro, mulher, criança, animal. Colin Powell é negro, Condoleeza Rice é negra e mulher, e no entanto, trabalha a favor do bloco rígido do capitalismo. A maior parte das crianças do mundo são idosas. Tem muita idade. Algumas já nasceram velhas, pois carregam os mesmos vícios da sociedade onde vivem. Um devir-animal sem escapar da antropomorfização dos animais zoologizados não pode existir.

Para engendrar o movimento deviriano, é necessário despersonalizar o corpo, produzir encontros múltiplos, experiências diversas à cotidianeidade, abrir novas conexões e composições, para que as afecções possam criar alternâncias que aumentem as potências de agir das pessoas, o que sempre vaza para o plano da comunalidade.

Produzir um acontecimento que não possa ser capturado pelos parâmetros da norma, da maioria padronizante. É deixar escapar o devir-minoria, que é intensidade e não número. E para isso, não precisa ser categorizado como minoria. Basta deixar passar os fluxos de alegria.

Fonte do texto:
http://afinsophia.wordpress.com/2007/08/
Retirado do Blog Afinsophia

1 comentários:

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, andamos sintonizados: estávamos, Gregorio e eu, conversando sábado sobre devires, lutas e contemporeinidade onde se mostra fértil da compreensão do devir no movimento; porém, longe estamos de acercarmos do acontecimento.Acontece, mas se revela NO EVENTO. AÍ, ENTRAMOS NA TEMÁTICA DO DEVIR MINORITÁRIO, E EU TRAZIA PARA CONVERSA nIETZSCHE DO dEMASIDO hUMANO QUE FALA QUE OS QUE FORAM ACORRENTADOS ACUMULARAM FORÇAS PARA O GRANDE LIVRAMENTO-DEVIRS... E concluimos que os insurgente, rebeladose os que criativamente afirmam a vida, também... amei vir aqui; Abraços com carinho, Jorge
Belo trabalho.