quinta-feira, 14 de abril de 2011

Crise, subjetivação e devir

                                                              
Não aprendemos, todavia, que a vida é uma turbulência permanente, ela é efervescência, pulsação vitalizante e saltos de ruptura e invenções do novo e da mudança... Ela se dá, acontece, caminha... permeada de crises... Movimenta-se no torvelinho das crises e se renova nos redemoinhos das crises... Não há vida sem crises... A ausência de crises revela estagnação, apatia mórbida, acomodação parasitária e morte civil... A crise é insurgente, instituinte, inovadora... Dela emergem o novo e o inédito viável, a utopia concretizada e a atualização do devir... Somos seres do devir... Somos movimento... E a vida é movimento e devir...
Contudo, o mundo como se encontra instituído odeia a rebeldia insurgente e revolucionária das crises... Na sociologia, é desclassificada como uma anomalia, anomia... Na medicina, é patologizada como desvio, transtorno, doença... Entretanto, a crise só cronifica-se como uma negatividade inscrutada no corpo individual e social, quando se abortam sua potência inovadora e a capturam com forças normatizados e restritivas, que mortificam o corpo e a sociedade numa paralisia com elementos de morte que vigiam, controlam, danificam os emergentes da vida nova que estão pulsantes e sedutores numa crise. Temos, assim, as crises... Preferimos a paz do pântano com suas águas pestilentas na quietude da proliferação repetitiva dos fluxos mortíferos...
Vida é água que corre e corre nas correntezas que são nossas crises... Ali, ela renova-se, ganha força, contorna obstáculos, se refaz... Se reinventa e se energiza... A crise é um analisador... Um analisador que desvela a verdade esfumaçada da falência da vida como estava sendo vivida e do mundo como este acontecia... Por isso, ela clama por mudanças... impõe mudanças... exige mudanças...
Se fugimos, se negamos, se fechamos os olhos, os ouvidos e os poros da própria pele, ela se mantém força rebelada, porém, vulnerável, e é aprisionada pelos que e pelo que evita no sistema, na realidade e na própria o novo, a mudança, um novo horizonte , um alvorecer de novas alegrias...
Vida - é "rizoma, fluxo subterrâneo, linhas de fuga"... que emergem num processo de crise.. E é isto que leva Leonardo Boff afirmar: " A crise representa purificação e crescimento"... Ela tira a vida da morte que é mormaço, sonolência, preguiça existencial... A crise é passarinheira, anuncia a aurora... Nas suas entranhas, vivem as subjetivações libertárias e os devires inovadores, potências do porvir, plenitude do alvorecer... Cuidar não, então, retomar a mesmice falida; e acolher, maternar, secar lágrimas, abraçar solidariamente para que com a forças de nossas mãos unidas possamos voar sobre o abismo e alcançar o novo, um novo jeito de viver e existir; o novo, uma nova sociabilidade um novo mundo possível...
Há na crise uma denúncia e uma profecia... Uma vida e um mundo, moribundos... E uma vida e um mundo, cheios de vida e de vida nova, querendo vir à tona, emergir, ganhar um lugar na estrada... Crise é vida... E "a vida acontece em partos de dor"... Assim, nos ensinou o velho passarinheiro Nietzsche no seu livro Humano Demasiado Humano... A crise, para Nietzsche é um chamado para o "grande livramento"... É caminho... caminho de libertação...

Fonte: http://jorgebichuetti.blogspot.com/

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