sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Guy Debord e o Situacionismo

Guy Debord e o Situacionismo

Resumo escrito por: Kerouak

A postura revolucionária, no quotidiano ocidental, tem sofrido grandes abalos. Devido, particularmente, ao crescimento econômico que entorpece a consciência das massas, aparentemente satisfeitas com a melhoria material das suas vidas. Pergunta-se, no entanto, se o ser humano é feliz, e vive em pleno a sua vida, o seu tempo? Quando aparece alguém a pôr em causa o sistema dominante, torna-se urgente, para a ordem vigente, sinalizar esses indivíduos, e ainda bem…
Em termos gerais, as teorias de Debord atribuem a debilidade espiritual, tanto das esferas públicas, quanto da privada, a forças econômicas que dominam a Europa após a modernização decorrente do final da Segunda Guerra.
Ele posiciona-se do outro lado da barricada, em relação ao capitalismo de estado do bloco socialista e, ao capitalismo do mercado ocidental, considerando-as as duas faces do mesmo problema – a alienação sentida pelas populações – atribuída por Debord às forças do Espectáculo. Uma forma mercantilista de a classe burguesa dominar o proletariado. “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de Espectáculos. Tudo o que era diretamente vivido, se afastou numa representação” (Tese 1 “A Sociedade do Espectáculo”, Guy Debord).
Debord não se considerava um filósofo ou director, mas sim um estratega, um general. Ele exorta as massas a agir contra qualquer tipo de opressão do sistema. A insubmissão é a via indicada para destruir a ordem, “O nosso ofício é destruir o mundo.” (“Enganar a Fome”, Guy Debord, Ed. Frenesi, Junho 2000).
“O Espectáculo – diz Debord – consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. O Espectáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade que desenvolveu ao extremo o fetichismo da mercadoria”.
Desta maneira, as relações entre as pessoas transformam-se em imagens e Espectáculo. O Espectáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens, argumenta Debord. O consumo e a imagem ocupam o lugar que antes era do diálogo pessoal, através da TV. e outros meios de comunicação de massas, que produz o isolamento e a separação social entre os seres humanos. A sociedade transforma-se numa Sociedade do Espectáculo, onde a continua reprodução da cultura é feita pela proliferação de imagens e mensagens dos mais variados tipos. A consequência é uma vida contemporânea exposta e invadida pelas imagens, operacionalizando um novo tipo de experiência humana, caracterizada por um modo de percepção, no qual é cada vez mais difícil separar a ficção da realidade. O Espectáculo é a perda, a falsificação do mundo, trata-se de uma experiência vivida pelos outros, que reduz o carácter lúdico da vida.
Guy Debord assume uma postura de resistência ao mundo completamente mercantilizado, mas sugere, contudo que uma outra forma de vida é possível. A exploração de um território desconhecido impõe-se, descolonizando o quotidiano e ocupar um espaço físico que possibilite a construção experimental de uma nova realidade – para tal Debord preconiza transformar a memória em real e o real em possível. Todos temos que dar o nosso contributo, transformando-nos em artistas da vida quotidiana.
Debord assume uma crítica radical contra qualquer tipo de imagem, que leve o homem à passividade e à aceitação dos valores preestabelecidos pelo capitalismo. Para este, a sociedade está contaminada pelas imagens – sombras do que efectivamente existe, onde se torna mais fácil ver e verificar a realidade no reino das imagens e não no plano da própria realidade. “Lá onde o mundo real se converte em simples imagens, as simples imagens tornam-se seres reais e motivações eficientes de um comportamento hipnótico.” (Tese 18 – “A Sociedade do Espectáculo, Guy Debord). Debord sustenta que no plano das técnicas, a imagem construída e escolhida por outra pessoa tornou-se a principal ligação do indivíduo com o mundo que antes, ele olhava por si mesmo, de cada lugar aonde pudesse ir. A partir de então, é evidente que a imagem é possível justapor sem contradição qualquer. O fluxo de imagem carrega tudo: outra pessoa comanda a seu bel-prazer esse resumo simplificado do mundo sensível, escolhe aonde irá esse fluxo, e também o ritmo do que deve aí manifestar-se, como perpetua surpresa arbitrária que não deixa nenhum tempo para reflexão, tudo isso independe do que o Espectador possa entender ou pensar.
Para Debord nenhuma imagem é inocente, ela integra o contexto social; cada imagem é uma revelação, tem uma essência própria. Ele reconhece ao cinema um carácter messiânico (milagroso). Utiliza-o como técnica operativa para intervir no presente. Trata-se para ele de destruir os códigos a partir do seu interior, rompendo com toda a fascinação espectacular e sistematicamente dissocia a imagem e o som, afirmando o primado do pensamento sobre o visual, frequentemente graças a imagens ou a planos subvertidos.
Debord apropria-se de material cinematográfico, descontextualizando e recontextualizando num discurso próprio, criando condições de pensamento sobre as imagens. Através da montagem cria imagens dialéticas com carregada tensão dramática.
Guy Debord e o Situacionismo Originalmente publicado no Shvoong: http://pt.shvoong.com/social-sciences/sociology/2094378-guy-debord-situacionismo/








Você pode conferir o manuscrito do filme no seguinte site:
http://www.reocities.com/projetoperiferia4/critica.htm

"Técnica e esteticamente, os filmes de Debord estão entre as obras mais brilhantes e inovadoras da história do cinema. Mas realmente estão mais para provocações subversivas do que para «obras de arte». Em minha opinião, podem ser qualificados como os filmes radicais mais importantes feitos até hoje, não só por expressarem a perspectiva radical mais profunda do último século, como também por não terem nenhum real paralelo no mundo cinematográfico. Muitos filmes expuseram este ou aquele aspecto de sociedade moderna, mas Debord foi o único que encarnou uma crítica consistente ao sistema global como um todo".

1 comentários:

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, um texto e uma postagem que esclarece e tensiona a dor da encruzilhada que vivemos. ele chama de debilidade espiritual, sim, é; chamo-a de desvitalização das utopias... Gostei demais da ida , logo, cedinho no seu blog... Belo alvorecer.
Abraços com ternura, Jorge