quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Modernidade Líquida

A Rede de Subjetividade Compartilhada e Inclusiva Expressa nos Discursos de Desejos dos Educadores, de Alex Sandro C. Sant'Ana

Paul Michel Foucault

Zygmunt Bauman

Currículo, Diferenças e Identidades


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Bauman e sociedade de consumo


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Apresentação Stuart Hall, Barbosa & Campbell

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Juventude: Pós-Modernidade e Capitalismo

 
Juventude: Pós-modernidade e Capitalismo

Não pensamos mais a juventude como uma época onde a inventividade conquistava o seu apogeu. A idéia de juventude como “época de ouro para a criação”, onde tudo aflora, as grandes mudanças acontecem, a criatividade canta, o desejo de novos ares transgride as fronteiras da individualidade para se ver expresso numa coletividade dançante, já não existe mais, agora é outra idéia que se tem da juventude, bem como a própria juventude, sendo tomada por essa idéia nova, transforma-se em outra coisa. Não se trata aqui de uma descoberta alegre, mas antes, de um derradeiro diagnóstico. Seria justo perguntarmos: no que se tornou a nossa jvuentude? Ora, o que se sabe - o que sempre se soube, bem ou mal - é que a juventude foi roubada, violentada, o capitalismo pós-moderno, rizomático e operante num espaço liso, a interiorizou, a transformou em mais uma engrenagem constitutiva de sua máquina doentia. O capitalismo, na pós-modernidade, engloba tudo (efeito sistêmico da globalização), engole implacavelmente toda a vida. Ele nos roubou até mesmo o ato de criar; a criatividade foi também interiorizada pelo capitalismo e direcionada ao consumo: a criação é a propaganda, quanto mais a propaganda persuade e conquista os indivíduos, mais criativa ela é considerada.

O que diabos fez o capitalismo com nossa juventude? Ele a transformou em mercadoria, ele a coisificou; Marx estará sempre certo ao apontar os mecanismos do capital que transformam a vida em mercadoria. A juventude bem como a vida passa a constituir coisas das quais o capitalismo extrai a força necessária a sua maquinaria. No capitalismo, a juventude não tem outro fim que não servir ao capital – capital como fim em si mesmo, como, novamente, diria Marx. Onde encontramos a juventude? Numa embalagem de achocolatado ou de refrigernate, nas boy banbs da indústria cultural, nas espetaculazirações das novelas televisivas, nas revistas de moda, nos slogans das grandes corporações etc. Como tudo na pós-modernidade, a juventude se dissolveu em caracteres fragmentados, em lixo, em item de uma prateleria de supermercado: consome-se juventude quando se assisti a um filme juvenil (Crepúsculo, por exemplo), ou quando se compra uma roupa ou um tênis. O capitalismo não se contenta em produzir mercadorias, mas em produzir a própria vida enquanto mercadoria. Nesse caso, trata-se de vender modos de vida, de pensamento – vida enlatada no processo de consumo massificado; é a vida para o consumo, como dir-nos-á Bauman.

Esse movimento apropriador do capital, que se apropria da vida para submetê-la às leis do mercado, à massificação dos modos de viver, à lógica do espetáculo da mercadoria, agrava-se e torna a vida cada vez mais doente, cada vez mais horrível. Tanto na legalidade quanto na ilegalidade o capitalismo participa e funciona - ele não pode deixar de funcionar. Quiçá seja daí que venha a irracionalidade da máquina capitalista, que nada tem a ver com uma negação da racionalidade no capitalismo. Como diz Deleuze “o racional é sempre a racionalidade de um irracional”, logo, antes do irracional refutar o racional, ele o supõe, “no fundo de toda razão, o delírio, a deriva”. Não devemos nos espantar quando percebemos o quão demente são os mecanismos capitalistas, ao contrário, é “precisamente por serem simultaneamente dementes e funcionarem muito bem” que devemos nos espantar.

Embora a pós-modernidade esteja aí para enterrar o desejo de uma juventude renovada, voltada para outras coisas que não o consumo, penso ainda ser possível compor músicas alegres. Um piano muito tímido ainda toca em meio às explosões e tiros de metralhadora, quebrando essa harmonia grotesca, de corpos caindo, de gente morrendo, de sangue sendo derramado aos litros. Os focos de resistência são como uma pequena e tímida esperança de dias vindouros. Toda sociedade possui suas linhas de fuga, mesmo que essas linhas de fuga não sejam facilmente percebidas ou estejam em perigo de serem contidas pelos movimentos apropriadores. O que não pode de modo algum ocorrer, é entender aquilo que se sabe sobre o atual estado de coisas como justificativa para novos conformismos e resignações. Deixar-se subjugar, curvar-se diante dos poderes e aceitar toda sujeição, tudo isso é atitude dos fracos de espírito, dos que já estão demasiado enfermos para modificar o estado deplorável de suas vidas.

Autor do texto: Rico  
Blog Filosofia e Rizoma
Fonte:
http://rizomafilosofia.blogspot.com/2010/06/juventude-pos-modernidade-e-capitalismo.html

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

vampiro-homem

homem líquido, liquidez cultural
egocentrismo corrosivo, pós-modernidade insana
saliva viscosa escorre pelo canto do homem, da boca
suspiro final, pessimismo sujo, ignonímia para a humanidade
insensatez, vida anêmica
ações frívolas
vampiro-homem
só sangue 
sanguessuga
enfermidade oca
destila pura estupidez

                                               Tânia Marques   12 de maio de 2010


Fonte da imagem:
errado-net.blogspot.com

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Minha opinião sobre alguns dos autores citados neste blog

Eu amo os estudos foucaultianos, quase exerço um culto à personalidade a Michel Foucault, não faço isso, ou seja, me desligo dessa situação de idolatria, porque entendo muito bem o quanto esse filósofo "detestava" qualquer vestígio de endeusamento semelhante aos mitos construídos pela modernidade. Ele não admitia ser tratado assim, deixava seus estudos em aberto para que outros pensadores dessem continuidade a eles, tendo como base os fatos histórico-culturais daquele futuro momento, por isso os seus questionamentos filosóficos também em relação à autoria. Porém, quanto mais o leio, mais me apaixono. Sou uma recente estudiosa de Foucault, na verdade já o conhecia desde época em que eu ingressei no curso de Direito, em 1984, mas logo saí e só retornei nos anos de 1995 e 1996. Depois desta última data, tive de me afastar completamente da faculdade sem concluir o curso.  Já era formada em Letras e segui fazendo a minha pós-graduação. Do ano de 2004 para cá, fiz vários cursos de extensão universitária na UFRGS, na área da Educação e da Filosofia da Diferença, e estou prestes a iniciar o mestrado em Estudos Culturais, por isso tamanha dedicação a todos esses e outros filósofos/estudiosos/pesquisadores/pensadores. Deleuze e Guattari são outros  filósofos que me cativaram em função da possibilidade constante e desejante de novos devires, a arte, a linguagem, a vida adquirindo contornos próprios, desatrelados do sistema e de acordo com a verdade (nem sempre conhecida) de cada um, na realidade,  um "vir a ser" que quebra paradigmas permanentes e gera utopias saudáveis de vida. Ah! Esqueci de dizer, antes de Foucault, eu me considerava althusseriana até a raiz dos cabelos (naquele momento havia essa possibilidade da linguagem de colocar-se como discípulo do mestre). Guy Debord, sob meu ponto de vista, foi um visionário, foi/é magnífico, falava nos anos cinqüenta como se estivesse vivendo em 2011 (que me desculpe Baudrillard, apesar de ser sua fã também, mas ele chegou primeiro e acertou na mosca). Bauman, adorável, estou estudando com afinco todo o material para o mestrado e ninguém está mais identificada com ele do que eu.  Nietzsche, igualmente estou lendo por ser a base de tudo, fenomenal. Gente, por enquanto é só isso.  Não escrevi esse post para tentar passar uma imagem de "mulher maravilha", tenho e terei sempre muito a aprender. À medida que a caminhada se fizer descoberta, prometo compartilhar com vocês as alegrias ou as agruras (se existirem) da trajetória. Beijo grande!

Tânia Marques 18 de fevereiro de 2011.
Fonte da imagem: Escultura de Rodin

Guy Debord e o Situacionismo

Guy Debord e o Situacionismo

Resumo escrito por: Kerouak

A postura revolucionária, no quotidiano ocidental, tem sofrido grandes abalos. Devido, particularmente, ao crescimento econômico que entorpece a consciência das massas, aparentemente satisfeitas com a melhoria material das suas vidas. Pergunta-se, no entanto, se o ser humano é feliz, e vive em pleno a sua vida, o seu tempo? Quando aparece alguém a pôr em causa o sistema dominante, torna-se urgente, para a ordem vigente, sinalizar esses indivíduos, e ainda bem…
Em termos gerais, as teorias de Debord atribuem a debilidade espiritual, tanto das esferas públicas, quanto da privada, a forças econômicas que dominam a Europa após a modernização decorrente do final da Segunda Guerra.
Ele posiciona-se do outro lado da barricada, em relação ao capitalismo de estado do bloco socialista e, ao capitalismo do mercado ocidental, considerando-as as duas faces do mesmo problema – a alienação sentida pelas populações – atribuída por Debord às forças do Espectáculo. Uma forma mercantilista de a classe burguesa dominar o proletariado. “Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de Espectáculos. Tudo o que era diretamente vivido, se afastou numa representação” (Tese 1 “A Sociedade do Espectáculo”, Guy Debord).
Debord não se considerava um filósofo ou director, mas sim um estratega, um general. Ele exorta as massas a agir contra qualquer tipo de opressão do sistema. A insubmissão é a via indicada para destruir a ordem, “O nosso ofício é destruir o mundo.” (“Enganar a Fome”, Guy Debord, Ed. Frenesi, Junho 2000).
“O Espectáculo – diz Debord – consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. O Espectáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade que desenvolveu ao extremo o fetichismo da mercadoria”.
Desta maneira, as relações entre as pessoas transformam-se em imagens e Espectáculo. O Espectáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens, argumenta Debord. O consumo e a imagem ocupam o lugar que antes era do diálogo pessoal, através da TV. e outros meios de comunicação de massas, que produz o isolamento e a separação social entre os seres humanos. A sociedade transforma-se numa Sociedade do Espectáculo, onde a continua reprodução da cultura é feita pela proliferação de imagens e mensagens dos mais variados tipos. A consequência é uma vida contemporânea exposta e invadida pelas imagens, operacionalizando um novo tipo de experiência humana, caracterizada por um modo de percepção, no qual é cada vez mais difícil separar a ficção da realidade. O Espectáculo é a perda, a falsificação do mundo, trata-se de uma experiência vivida pelos outros, que reduz o carácter lúdico da vida.
Guy Debord assume uma postura de resistência ao mundo completamente mercantilizado, mas sugere, contudo que uma outra forma de vida é possível. A exploração de um território desconhecido impõe-se, descolonizando o quotidiano e ocupar um espaço físico que possibilite a construção experimental de uma nova realidade – para tal Debord preconiza transformar a memória em real e o real em possível. Todos temos que dar o nosso contributo, transformando-nos em artistas da vida quotidiana.
Debord assume uma crítica radical contra qualquer tipo de imagem, que leve o homem à passividade e à aceitação dos valores preestabelecidos pelo capitalismo. Para este, a sociedade está contaminada pelas imagens – sombras do que efectivamente existe, onde se torna mais fácil ver e verificar a realidade no reino das imagens e não no plano da própria realidade. “Lá onde o mundo real se converte em simples imagens, as simples imagens tornam-se seres reais e motivações eficientes de um comportamento hipnótico.” (Tese 18 – “A Sociedade do Espectáculo, Guy Debord). Debord sustenta que no plano das técnicas, a imagem construída e escolhida por outra pessoa tornou-se a principal ligação do indivíduo com o mundo que antes, ele olhava por si mesmo, de cada lugar aonde pudesse ir. A partir de então, é evidente que a imagem é possível justapor sem contradição qualquer. O fluxo de imagem carrega tudo: outra pessoa comanda a seu bel-prazer esse resumo simplificado do mundo sensível, escolhe aonde irá esse fluxo, e também o ritmo do que deve aí manifestar-se, como perpetua surpresa arbitrária que não deixa nenhum tempo para reflexão, tudo isso independe do que o Espectador possa entender ou pensar.
Para Debord nenhuma imagem é inocente, ela integra o contexto social; cada imagem é uma revelação, tem uma essência própria. Ele reconhece ao cinema um carácter messiânico (milagroso). Utiliza-o como técnica operativa para intervir no presente. Trata-se para ele de destruir os códigos a partir do seu interior, rompendo com toda a fascinação espectacular e sistematicamente dissocia a imagem e o som, afirmando o primado do pensamento sobre o visual, frequentemente graças a imagens ou a planos subvertidos.
Debord apropria-se de material cinematográfico, descontextualizando e recontextualizando num discurso próprio, criando condições de pensamento sobre as imagens. Através da montagem cria imagens dialéticas com carregada tensão dramática.
Guy Debord e o Situacionismo Originalmente publicado no Shvoong: http://pt.shvoong.com/social-sciences/sociology/2094378-guy-debord-situacionismo/








Você pode conferir o manuscrito do filme no seguinte site:
http://www.reocities.com/projetoperiferia4/critica.htm

"Técnica e esteticamente, os filmes de Debord estão entre as obras mais brilhantes e inovadoras da história do cinema. Mas realmente estão mais para provocações subversivas do que para «obras de arte». Em minha opinião, podem ser qualificados como os filmes radicais mais importantes feitos até hoje, não só por expressarem a perspectiva radical mais profunda do último século, como também por não terem nenhum real paralelo no mundo cinematográfico. Muitos filmes expuseram este ou aquele aspecto de sociedade moderna, mas Debord foi o único que encarnou uma crítica consistente ao sistema global como um todo".

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Felix Guattari: Os oito "princípios" da esquizoanálise

Felix Guattari: Os oito "princípios" da esquizoanálise
Arquivado em: Esquizoanálise
Escrito por Bernardo Rieux
Qua, 12 de Outubro de 2005 20:30

A esquizoanálise seria um novo culto da máquina? Talvez! Mas não certamente no quadro das relações sociais capitalistas! O progresso monstruoso dos maquinismos de toda natureza, em todos os domínios, e que parece agora dever conduzir a espécie humana para uma inelutável catástrofe, poderia pois, tornar-se a via real de sua liberação. Então, sempre o velho sonho marxista? Sim, até um certo ponto, pois, antes de apreender a história como sendo essencialmente carregada pelas máquinas produtivas e econômicas, penso, ao contrário, que são as máquinas, todas as máquinas que, funcionando à moda da história real ficam, por isso, constantemente abertas aos traços de singularidade e às iniciativas criadoras. Como contestar hoje que apenas uma revolução generalizada poderá, não só melhorar de maneira sensível o modo de vida sobre a terra, mas simplesmente salvar a espécie humana de sua destruição? Trata-se de afrontar tanto os imensos meios de materiais coercitivos como os meios microscópicos de disciplinarização dos pensamentos e dos afetos de militarização das relações humanas. Mesmo que se volte para o Oeste, para o Leste ou para o Sul, a questão fica na mesma: como organizar de outro modo a sociedade. A repressão permanecerá sempre como um dado de base de toda organização social? Porém, nada disso é inelutável, outros agenciamentos sociais, outras conexões maquínicas são concebíveis! Sobre esse ponto, pouco importa se parecemos titubear sobre o marxismo: não há nada a esperar de bom de um retorno às naturezas primeiras (não é por nada que os diversos fascismos não cessam de reclamar sobre elas). Nada mais como solução geral que a menor catarse em pequena escala! Nada pode ser resolvido a não ser pela colocação de agenciamentos altamente diferenciados. Somente deve ficar claro que as máquinas revolucionárias, que mudarão o curso do mundo, não poderão ser efetivadas, e só tomarão uma consistência fazendo-as efetivamente agir, por uma dupla condição:

1) que elas tenham por objeto a destruição das relações de exploração capitalista e o fim da divisão da sociedade em classes, em castas, em raças, etc.

2) que elas se estabeleçam, rompendo com todos os valores fundados sobre uma certa micropolítica do músculo, do phallus, do poder territorializado, etc...

Eis-nos de volta à questão da esquizoanálise! Não se trata, como se vê, de uma nova receita psicológica ou psico-sociológica, mas de uma prática micropolítica que só tomará seu sentido com referência a um gigantesco rizoma de revoluções moleculares, que proliferam a partir de uma multidão de mudanças mutantes: tornar-se mulher, tornar-se criança, tornar-se velho, tornar-se animal, planta, cosmos, tornar-se invisível... - do mesmo modo inventar "máquinas", novas sensibilidades, novas inteligências da existência, numa nova submissão.

Após isso, se eu devesse forçosamente dar como conclusão algumas recomendações de bom senso, algumas regras simples para a direção da análise do inconsciente maquínico, eu proporia os aforismos seguintes que, aliás, poderiam ser aplicados a todos os outros campos, a começar pelo da "grande política":

1 - "Não impedir". Em outras palavras, não acrescentar ou retirar. Ficar, justamente, na adjacência da mudança em curso e extinguir-se tão logo possível (não se trata aqui, pois, de curas que se arrastam durante anos, até dezenas de anos como é a moda atual para a psicanálise!).

2 - "Quando acontece alguma coisa, isso prova que acontece alguma coisa". Tautologia fundamental para marcar aí, igualmente, uma diferença essencial com a psicanálise cujo princípio de base quer dizer que: "quando não acontece nada, isso prova que acontece, na realidade, alguma coisa no inconsciente"; princípio que seve para o psicanalista justificar sua política do silêncio e das esperas indefinidas. Na verdade, é pouco frequente que aconteça verdadeiramente alguma coisa nos agenciamentos do desejo! Convém, também, guardar todo seu relevo para tais acontecimentos e toda sua vitalidade para os componentes de passagem que são a manifestação desses acontecimentos. Os psicanalistas queriam que nós acreditássemos que eles estão em relação constante com o inconsciente, que dispõem de uma ligação privilegiada que os reúne a ele, uma espécie de telefone vermelho, como o de Carter e de Brejnev! O despertar do inconsciente sabe se fazer compreender por ele próprio. O desejo inconsciente, os agenciamentos que não se exprimem pelos sistemas dominantes de semiotização, manifesta-se por outros meios que não enganam. Aqui não se precisa de porta-voz, de intérpretes. Que mistificação é essa de pretender que o inconsciente trabalhe em segredo, que não se possa dispensar um certo tipo de detetive para decifrar suas mensagens e, sobretudo, afirmar que ele está sempre vivo, latente, repelido, quando na verdade ele estaria visivelmente entorpecido, esgotado, morto, e que não haveria mais outro recurso a não ser o de reconstruí-lo, algumas vezes partindo quase do zero? Que alívio, um pouco fraco, como o de encontrar alguém que lhe dê crédito, contra toda aparência, de uma riqueza inconsciente, inesgotável, enquanto tudo ao seu redor - a sociedade, a família, sua própria resignação - parece ter conspirado para exauri-lo de todo desejo, de toda esperança de mudar sua vida! um tal serviço não tem preço e compreende-se por que os psicanalistas cobram tão caro! (1)

3 - A melhor posição para se ouvir o inconsciente não consiste necessariamente em ficar sentado atrás de um divã.

4 - "O inconsciente compromete aqueles que dele se aproximam". Sabemos que "acontece alguma coisa", quando o agenciamento esquizoanalítico atualiza uma "matéria de opção"; torna-se então impossível ficar neutro, pois esta matéria de opção arrasta, no seu sulco, todos aqueles que encontra.

5 - "As coisas importantes não acontecem nunca onde nós as esperamos". Outra formulação do mesmo princípio: "A porta de entrada não coincide com a porta de saída". Ou ainda: "As matérias dos componentes incitando uma mudança não são geralmente da mesma natureza que aquelas dos componentes que efetuam essa mudança". (Exemplo: a palavra se converterá em somático, ou somático em econômico, ou em ecológico, enquanto que o ecológico se converterá em palavra ou em acontecimentos sócio-históricos, etc., etc.) A riqueza de um processo esquizoanalítico medir-se-á pela variedade e pelo grau de heterogeneidade dessas espécies de transferir rizômicos de maneira que nenhuma espécie de semiologia significante, de hermenêutica universal ou de programação política pretenderá traduzi-los, pô-los em equivalência, os teleguiar para daí, finalmente, extrair um elemento comum facilmente explorável pelos sistemas capitalistas. Um significante não representa decididamente a subjetividade esquizo-analítica para um outro significante! Como os componentes não conseguem organizar seus próprios núcleos maquínicos e seus próprios agenciamentos de enunciação, rebelam-se diante da pretensão dos significantes dominantes para interpretá-los. E, em seguida, são eles que fagocitam o componente significante (O que, é preciso repetir, não é de maneira alguma sinônimo de um primado sistemático dos componentes não-verbais "diante do tempo das máquinas!").

6 - Visto que na passagem tratou-se de transfer, penso que estaríamos bem advertidos para distinguir em todas circunstâncias:

- os transfers por ressonância subjetiva, por identificação pessoal, pelo eco do buraco negro;

- transfers maquínicos (máquinas-transfers) que procedem aquém do significante e das pessoas globais, por interações diagramáticas e a-significantes, e que produzem novos agenciamentos antes de representar e transmitir indefinidamente antigas estratificações.

7 - "Nunca nada é adquirido". Nenhum estádio, nenhum complexo nunca é transposto, nunca é ultrapassado. Tudo permanece sempre plano, disponível a todos os reempregos mas também a todas as derrocadas. Um buraco negro pode ocultar um outro! Nenhum objeto pode ser afetado por uma identidade fixa; nenhuma situação é garantida. Tudo é assunto de consistência, de agenciamento e de reagenciamento. A publicação de uma consistência simbólica garantida cem por cento ("como você venceu seu complexo de castração?") é uma operação desonesta e perigosa. Sobretudo da parte das pessoas que pretendem tê-lo adquirido, eles próprios, no decorrer de uma análise tida como didática!

8 - Finalmente, mas na realidade, o primeiro princípio: "toda idéia de princípio deve ser mantida como suspeita". A elaboração teórica é tanto mais necessária e deverá ser tanto mais audaciosa quanto o for o agenciamento esquizoanalítico que admitiu a medida de seu caráter como essencialmente precária.

(1) Poder-se-ia transpor, palavra por palavra, o que nós dissemos aqui do psicanalista ao militante profissional, a quem caberia "fazer existir " a classe trabalhadora como motor-da-história, mesmo quando ela estivesse deprimida, relaxada, cúmplice da ordem dominante - como em certos baluartes do capitalismo - ou, melhor ainda, quando ela não existe praticamente no local, como é o caso em numerosos países do tercerio mundo.

Bibliografia:

GUATTARI, F. O Inconsciente Maquínico - Ensaios de Esquizoanálise. Campinas: Papirus, 1988 (p. 187-191)

Fonte do texto: 

Fonte da imagem: fgbbh.org.br 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Orkut, Big Brother e a Sociedade do Espetáculo

A publicação deste texto foi-me concedida, via mensagem direta do Twitter, pelo seu autor, Glauber Ataide, do Blog Perfeição. Muito obrigada!
Guy Debord compreendeu de tal forma o mecanismo do espetáculo sob o capitalismo que, ao lermos sua intocável obra "A sociedade do espetáculo", de 1967, temos a impressão que o autor já conhecia fenômenos como Orkut, MSN e Big Brother. Mas não era isso. É que ele conseguiu compreender a essência daquilo que, no capitalismo, levaria ao desenvolvimento desses fenômenos.

Mas o que é o "espetáculo"? Para Debord, "o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens".

José Arbex Jr. no livro "Showrnalismo: a notícia como espetáculo", explica assim:

"O espetáculo consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida. É a forma mais elaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o ‘fetichismo da mercadoria’ (felicidade identifica-se a consumo). Os meios de comunicação de massa – diz Debord – são apenas ‘a manifestação superficial mais esmagadora da sociedade do espetáculo, que faz do indivíduo um ser infeliz, anônimo e solitário em meio à massa de consumidores’".

O espetáculo é a vida mediada por imagens, isso é, quando a vida é deixada de ser vivida diretamente para ser vivida através de imagens. O espetáculo é a negação da vida. Essa lógica, identificada por Debord já na década de 60, é a mesma que levou ao desenvolvimento das atuais redes virtuais de relacionamento.

O Big Brother é uma outra expressão inequívoca do espetáculo. Seu nome vem de um personagem chamado "Big Brother", da obra "1984", de George Orwell. O Big Brother (ou "Grande Irmão) era o ditador da Oceania, um estado totalitário. Através de câmaras, ele vigiava todos os cidadãos dentro de suas próprias casas.

A falsa realidade apresentada pelo reality show Big Brother é consumida por uma multidão hipnotizada e ávida por realidade. Mas o que encontram é apenas uma realidade que esvaziou-se, assim como eles próprios. O Big Brother é uma "ficção do real".

Os participantes se submetem a uma exposição humilhante de sua intimidade (como quando fazem sexo dentro da casa) apenas para obter uma fama quase tão passageira quanto a sua participação no programa. Mas Debord já explicava o por que disso:

"A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social levou, na definição de toda a realização humana, a uma evidente degradação do ser em ter. A fase presente da ocupação total da vida social em busca da acumulação de resultados econômicos conduz a uma busca generalizada do ter e do parecer, de forma que todo o "ter" efetivo perde o seu prestígio imediato e a sua função última. Assim, toda a realidade individual se tornou social e diretamente dependente do poderio social obtido. Somente naquilo que ela não é, lhe é permitido aparecer."

Na sociedade do espetáculo, não basta a degradação do ser ao ter. Ela vai além, e degrada o ter em parecer ter.

Uma curiosa ocorrência disso encontramos entre membros da classe média, que moram em minúsculos apartamentos mas possuem carros extravagantes na garagem. Como quase ninguém os conhece em sua intimidade, eles não precisam de um imóvel grande para acomodar visitas. No entanto, como muita gente lhes vê nas ruas desfilando com o seu automóvel (desde que o seu vidro não seja fumê), daí então a necessidade do parecer.

O espetáculo, vale repetir, é a negação do real. É a vida deixada de ser vivida diretamente para ser vivida através de imagens, através do consumo de imagens. O espetáculo hoje está mais explícito do que nunca.

Vamos finalizar com o aforismo 30 do livro de Debord:

"A alienação do espectador em proveito do objeto contemplado (que é o resultado da sua própria atividade inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos ele compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo. A exterioridade do espetáculo em relação ao homem que age aparece nisto, os seus próprios gestos já não são seus, mas de um outro que lhos apresenta. Eis porque o espectador não se sente em casa em parte alguma, porque o espetáculo está em toda a parte."

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Eu, Etiqueta

"Eu, Etiqueta" é um texto atemporal. Retrata a forma como as pessoas encaram a moda, o uso excessivo de marcas que as mascaram e as transformam em objetos descartáveis, em uma coisa. Revela a inconsciente consciência do homem que é dominado pela sociedade de consumo e tratado como um produto de anúncio publicitário, tornando, com isso, obscura a sua real essência e a sua verdadeira existência, ou seja, evidenciando a sua alienação cultural.

EU, ETIQUETA

(CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)

Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que estar na moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comprazo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Resumia uma estética.
Hoje, sou costurado,
Sou tecido,
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
Eu sou a coisa, coisamente.


Fonte do texto:
Fonte da imagem: usuariovirtual.blogspot.com

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Sobre o ensaio: algumas reflexões

Ensaiar e perguntar foi todo o meu caminho”.
Friedrich Nietzsche

Se a minha alma pudesse dar pé, eu não me ensaiaria, me resolveria; mas ela se encontra sempre em aprendizagem e à prova”. 
Montaigne

Não temos como herança mais do que vento e fumaça”. 
Montaigne

Eu não pinto o ser, pinto o devir”. 
Montaigne

Homens de atos ou homens de ar, essa é a alternativa”. 
T. W. Adorno

O ensaio - que é necessário entender como experiência modificadora de si no jogo da verdade, e não como apropriação simplificadora de outrem para fins de comunicação - é o corpo vivo da filosofia, se, pelo menos, ela for ainda hoje o que era outrora, ou seja, uma ‘ascese’, um exercício de si, no pensamento”. 
Michel Foucault

(FOUCAULT, Michel. História da sexualidade II. O uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Graal, 1998.).

Citação retirada de:

LARROSA, Jorge. A operação ensaio: sobre o ensaiar e o ensaiar-se no pensamento, na escrita a na vida. in Dossiê Michel Foucault. Revista Educação & Realidade. Porto Alegre: UFRGS, v. 29, n. 1, p. 5-520, jan./jun.2004.

“Sabemos que Foucault foi muito sensível à literatura e às artes. Sabemos que Foucault fez de sua relação com a literatura e com as artes algo mais profundo do que uma ocupação marginal, e algo mais profundo do que uma ocupação crítica. Foucault nunca fez crítica literária, e sequer filosofia da literatura ou da arte. Para Foucault, talvez, a literatura foi um dos lugares que ele escolheu para uma meditação sobre a relação entre escrita e pensamento. Por isso, a última parte desta conferência não pode ter outro lugar do que esse ‘entre’, entre pensar e escrever, entre escrever e pensar; o que seria uma escrita que pensa e que pensa sobre si mesma, e um pensamento que escreve e que escreve sobre si mesmo.

É sabido que o ensaio é considerado como um híbrido entre a filosofia e a literatura. Sua vontade de verdade o habilita como filosófico, e a sua vontade de estilo, como literário. Entretanto, no ensaio, tanto a verdade como o estilo são inseparáveis do sujeito e são inseparáveis da vida, da invenção e da experimentação de possibilidades de vida, de formas de vida, de estilos de vida. Mas é aí que aparecem os problemas. No ensaio moderno, precisamente por sua vontade de autoria, o estilo expressa, ao mesmo tempo, a experiência de um sujeito e a construção de um mundo. No ensaio moderno, o estilo é o homem, ou o autor, ou o sujeito. O estilo é a marca da subjetividade na linguagem. E na verdade. Mas na obra de Foucault trata-se de outra coisa.

A questão da literatura e sua sobreposição com a questão da escrita, da escrita pensante e da escrita do pensamento, não tem a ver somente com os recursos expressivos, mesmo que, nos recursos expressivos, não há dúvida de que Foucault é um escritor deslumbrante. Poderíamos dizer que, em Foucault, a questão da escrita é o núcleo fundamental no qual afirma e, ao mesmo tempo, problematiza sua vocação filosófica e sua concepção do pensamento. Foucault, a um só tempo, faz da filosofia, ficção, e da literatura, verdade. E aí a escrita aparece como o lugar do pensamento e como o enigma de um fosso reflexivo que se abre. Em Foucault, o pensamento se faz escrita, se pensa como escrita e, no limite, se dissolve em escrita. E é justamente ao dissolver-se como escrita que ele se abre para a sua própria transformação, para seu próprio ensaio. Em Foucault, ensaiar seria uma experiência simultânea de escrita e pensamento, uma experiência na qual se decidiria o que nos é dado dizer e o que nos é dado pensar, ao mesmo tempo, no presente, na primeira pessoa”.
Jorge Larrosa é professor da Universidade de Barcelona, Espanha.


Recortes do texto que foi apresentado como palestra de encerramento no Seminário Internacional Michel Foucault: perspectivas, realizado em Florianópolis, em setembro de 2004, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Vigiar e Punir, O panóptico de Michel Foucault

Vigiar e Punir, O Panóptico de Michel Foucault

Resumo escrito: lucier
       A punição e a vigilância são poderes destinados a educar (adestrar) as pessoas para que essas cumpram normas, leis e exercícios de acordo com a vontade de quem detêm o poder. A vigilância é uma maneira de se observar a pessoa, se esta está realmente cumprindo com todos seus deveres – é um poder que atinge os corpos dos indivíduos, seus gestos, seus discursos, suas atividades, sua aprendizagem, sua vida cotidiana. A vigilância tem como função evitar que algo contrário ao poder aconteça e busca regulamentar a vida das pessoas, para que estas exerçam suas atividades. Já a punição é o meio encontrado pelo poder para tentar corrigir as pessoas que infligem as regras ditadas pelo poder, e ela também é o meio ilidir que essas pessoas cometam condutas puníveis (através da punição as pessoas terão receio de cometer algo contrário às normas do poder). A vigilância e a punição podem ser encontradas em várias entidades estatais, como hospitais, prisões e escolas. Foi criado até um sistema chamado panóptico para facilitar essa vigilância. Nesse sistema haveria uma torre central a qual avistaria, vigiaria todos de uma só vez que estão a sua volta, já que essa estrutura à volta da torre central era circular. “O panóptico de Jeremy Bentham é uma composição arquitetônica de cunho coercitivo e disciplinatório: possui o formato de um anel onde fica a construção à periferia, dividida em celas, tendo ao centro uma torre com duas vastas janelas que se abrem ao seu interior e outra única para o exterior permitindo que a luz atravesse a cela de lado...” (Michel Foucault - Micro-Física do Poder) A relação entre vigiar e punir está no fato de que com ela seria possível “adestrar” as pessoas para que estas exercessem suas tarefas como bons cidadãos, evitar o máximo que as pessoas infringissem as normas estabelecidas pelo poder, estas idéias podem ser retiradas do livro “VIGIAR E PUNIR”. Segundo Foucault, para a economia do poder seria mais rentável e mais eficaz vigiar do que punir. Isso pode ser facilmente observado se pegarmos o panoptismo como exemplo, pois é muito mais barato vigiarmos as pessoas para que estas não infrinjam as leis, do que posteriormente puni-las, pois na punição terá que ser gasto muito dinheiro para que a pessoa que infringiu a lei seja resociabilizada (reeducada). Além disso, com o sistema panóptico, a vigilância fica ainda mais fácil, já que é possível vigiar várias pessoas ao mesmo tempo, e a punição, para que esta alcance mesmo seu objetivo, ela tem que ser aplicada de maneira individual – pois cada um tem uma maneira diferente de ser reeducado e resociabilizado. Ainda podemos dizer que a vigilância ganhou espaço na economia do poder, pois é muito mais fácil vigiar as pessoas para ver se estas estão mesmo cumprindo suas funções, e com o panoptismo isso fica ainda mais fácil principalmente nas entidades como nos hospitais e nas escolas, do que vir a puni-las caso cometam algum erro. 


Fonte
http://pt.shvoong.com/social-sciences/1632203-vigiar-punir-pan%C3%B3ptico-michel-foucault/

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Foucault por Foucault

poema deleuzeano

Paul Klee, Highway and Byways (1929)
Oil on canvas, 32 5/8 x 26 3/8
Pensamento sem imagem
Anarquia mental
Libertação total
de paradigmas territoriais
Palavras, textos, obras
falando por si só
a estética do nonsense
para dar significado
àquilo que nos amarra
que aprisiona as nossas singularidades
Nasce um poema deleuzeano
longe do lugar-comum
pois a criação
é uma nova possibilidade
de vida não-fascista
sem rótulos
sem marcas
sem estéticas corrompidas
o imprevisível
o intempestivo
surgindo para engendrar
uma beleza que não esteja subjugada ao poder
Milhões de incertezas brotando
Para fazer a diferença das diferenças
Luta filosófica ferrenha
entre palavras e sentidos
Eis um poema deleuzeano...

Tânia Marques 12/07/09

Meus versos para Michel Foucault

(...) o homem de que nos falam e que nos convidam a liberar já é em si mesmo o efeito de uma sujeição bem mais profunda que ele. Uma ‘alma’ o habita e o leva à existência, que é ela mesma uma peça no domínio exercido pelo poder sobre o corpo. A alma, efeito e instrumento de uma anatomia política; a alma, prisão do corpo. (FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1987.)
     
Foucault, eu juro que não quero incomodar-te
Com esta composição que tem certa simetria
Mas quero registrar nela muito daquilo que falaste
A respeito do sujeito e da sua idolatria

Sei que detestavas o culto à personalidade
E nisso eu concordo contigo indubitavelmente
Somente uma reflexão crítica sobre a verdade
Poderá levar o sujeito a rebelar-se totalmente

Da normalização do sujeito à questão dos poderes
Melhor do que tu, ninguém soube explicar
Subjetividade no plural para a produção dos saberes
Jogos de verdade, nós devemos também agenciar

Cada indivíduo que se submete ao discurso do poder
Não tem consciência da sua sujeição e da sua domesticação
Por isso, é preciso escapar do “olho vigilante”, a saber
A fim de libertar-se das estruturas de domínio e mortificação

Foucault, eu agradeço a ti os teus estudos maravilhosos
Toda a tua contribuição filosófica sobre governamentalidade
A história da loucura e o cuidado de si são teus escritos preciosos
Incluindo a arqueologia do saber e a história da sexualidade


Tânia Marques 17/07/09
Fonte da imagem: deusnagaragem.ateus.net/.../

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Zygmunt Bauman e a Pós-Modernidade

Confira o texto "A Invenção do Contemporâneo" disponível em: