Jorge Bichuetti
Mortificados pelo corpo que vê corpo danificado no capitalismo e na sociedade mundial de controle, pensamos nos caminhos da libertação: cura-emancipação; cura-vida e homem novo; cura-devir... Aqui, hoje, refletiremos sobre contribuições que nos chegam das lições que brotaram no solo da transformação da psiquiatria asilar para novos modos de cuidar. Baremblitt diz que "psicótico é alguém que renunciou o mundo de vendedores e vencedores". Neste mesmo sentido, alerta-nos Michel Foucault que vivemos a ditadura da felicidade, da juventude, da beleza e da vitória... Ambos, nos indicam, claramente, que as pressões normativas do mercado e da ideologia dominante nos obrigam e nos forçam corpos vulneráveis, que se realizam e se frustram nas teias da acumulação e da competição.
O processo de acumulação de riquezas, o mundo dos vendedores, permanece no espectro do fetichismo, da mercadoria. Os bens perdem o valor de uso e são subsumidos pelo valor de troca; e nossas vidas, coisificadas: coisificadas na venda e no processo alienado de trabalho e coisificada pela substituição do valor do ser humano, dado pela sua história de vida para uma vida que vale os objetos que a abona como vida de valor.
Um processo de desumanização...
Desumanização que se aprofunda na ditadura, percebido por Foucault. A vida é paradoxo... Alegria e dor, vitória e derrota; esperança e desalento.A beleza-padrão é uma estigmatização excludente da estética singularizante. A juventude é só uma das fases e faces da vida...
Assim, o nosso corpo não pode desvendar suas potências... Ele vive sucateado e pressionado, diuturnamente, para ser um corpo-robô... Cópia vitoriosa dada pelo mundo. Adoecemos com uma nova expropriação: roubaram nossa humanidade... O corpo fala, resiste, evita, foge... Ele não se suporta experenciar a dureza robótica que o anula como corpo-vida, vida peregrina que se inventa e se constrói no entrevero de quedas e vitórias, risos e lágrimas... Não sendo a perfeição dos vencedores e vendedores, nosso corpo escapa... e como o mundo vem subtraindo do cotidiano escapes produtivos, definhamos... Adoecemos...
Sartre com a ideia do inacabamento, do homem-projeto, conjunto de tarefas, obra em construção nos potencializa para a cura-libertação... Nos ressintoniza com o âmago da vida.
Voltando a Nietzsche, anotamos que o que belo no homem é que ele é uma passagem entre o animal e o além-do-homem; e grandioso, é que ele é um passar e um sucumbir...
Não existe possibilidade de cura-libertação, longe do resgate da nossa humanidade... Vida que experiencia, tenta, equivoca, acerta, escolhe... No universo da nossa capacidade de escolher, optar, reintroduzimos a nossa vida de potência... Porquanto, na opção restaura-se o espaço da singularidade e esvazia-se a uniformização patogênica e patogenizante...
Cura-libertação é caminho de ruptura com o mercantilismo, com a deificação do dinheiro, com o consumismo, com a escravidão a um padrão de vida - juventude viril, bruta e violenta, de vitórias e massacres, de beleza para o espetáculo, de liquidez existencial...
Consequentemente, cura-libertação emerge na potência do ser humano que se assume singularidade e desejo, sonho e opção... Vida que se inventa no perambular dos caminhos...
Fonte: Blog Utopia Ativa
1 comentários:
Olá amiga Tânia! Você sempre majestosa e mestra em tudo que faz. Parabéns por este espeaço que sempre seguirei com orgulho. Abraço de gratidão e termura da amiga eterna Lou Moonrise.
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