segunda-feira, 27 de junho de 2011
quinta-feira, 23 de junho de 2011
O LUGAR DO SOCIAL NA EXISTÊNCIA HUMANA
Amauri Ferreira
É necessário destacar a diferença que há entre um social que se banalizou, de outro que tornou-se enriquecido, que se exprime, muitas vezes, na sensação de que tivemos um dia prolífico, satisfeitos com nosso próprio trabalho, com a certeza de termos avançado ainda mais longe na nossa própria tarefa. Mas costuma-se imaginar que aqueles que falam com e como todo mundo são “sociáveis”, pois eles são facilmente identificados, facilmente tornados familiares, enquanto os outros seriam os “dissociáveis” e, justamente por isso, supostamente pagariam um preço alto por não viverem “como tudo mundo”, por não fazerem as coisas que “todo mundo faz” - e assim são acusados de viverem “isolados”. Mas não se trata de isolamento, mas de algo que é muito sutil, que não se percebe, que é ignorado freqüentemente: trata-se da capacidade seletiva de nos relacionar com as coisas que realmente nos interessa, que, inclusive, podem ser pouquíssimas, quando comparada à abertura leviana e sem seletividade vivida pela multidão. Não se constrói um mundo próprio quando se vive de maneira vulgar – em oposição a isso, o mundo selecionado de acordo com nós mesmos, devido à nossa própria potência de existir, torna a indolência difícil de suportar. Fazemos explodir a organização tirânica da vida, esta que é sustentada pela censura, culpa, sofrimento, recompensa, reconhecimento (não se conquista um mundo próprio enquanto se vive capturado pelo reconhecimento), igualdade e medo, muito medo. Como nos parecem os que se preocupam em defender a sua honra e, em razão disso, agem movidos pelo medo de serem julgados por aqueles que mais temem? Vigiam porque têm medo de quem os vigia, reprimem para sustentar a boa opinião que os vizinhos terão deles. É inevitável eles se assemelhem pela falta, pela fraqueza, pela baixeza dos seus hábitos. Por outro lado, o anonimato é signo de distinção, de liberdade, de possibilidade de perceber quem é o inimigo para que as nossas forças não sejam desperdiçadas gratuitamente. E, além disso, o anônimo faz a distinção fundamental entre pequenas e grandes questões. Grandes questões nascem quando se vê a folha de uma árvore inserida num todo: galhos, tronco, a árvore no ambiente onde vive e cresce. Grandes questões não estão dissociadas da habitação, do ar que se respira, do que se alimenta, como se ganha o seu próprio pão. Grandes questões colocam em dúvida valores que entravam a exploração de novas capacidades de agir. Já as pequenas questões, que são mais freqüentes, se contentam com a folha da árvore e ignoram o resto. Pequenas questões nos dizem que tal pessoa é assim e assado em razão disso e daquilo – e lá se vão grandes doses de energia desperdiçadas para a preservação de alguém que imagina viver desconectado do resto, de um “eu” que ora sofre, que ora está feliz, que também canta, dorme, come, que vive para se exibir. Assim as grandes questões são adiadas, pois elas não são interessantes quando o orgulho doentio à raça, ao sexo, à classe social, e demais representações, servem para manter um social banalizado.
FONTE DA IMAGEM: taimologia.blogspot.com
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Morte no campo: nosso clamor é mesmo inútil?
por Helen Lopes de Sousa
Segundo o ensaísta Hans Magnus Enzensberger, ‘o homem é o único primata que planeja o extermínio dentro de sua própria espécie e o executa entusiasticamente e em grandes dimensões’. Já os filósofos Gilles Deleuze e Feliz Guattari definiram a ‘máquina de guerra’ como ‘exterior ao aparelho de estado’. Fica a pergunta: como caracterizar o atual estado de coisas? Como definir as centenas de assassinatos de camponeses no Brasil atual? Como parar esta máquina de guerra que funciona em silêncio? O noticiário frequente da imprensa revela a vulnerabilidade e insegurança que vivem os milhares de trabalhadores rurais do país. Não existe uma política séria de enfrentamento do problema. De quem é a culpa?
O assassinato é sempre culpa do ‘outro’. Ninguém se arvora em querer partilhar com os assassinatos. O assassinato de camponeses, ativistas, religiosos é um tipo de latifúndio improdutivo que ninguém quer dividir. As mortes dão à sensação de que algo aconteceu, quando nada parece ter acontecido. Trata-se de uma coisa que sempre esteve presente em nossa tosca sociabilidade, algo que acontece sem parar. Uma máquina sangrenta e silenciosa. No Brasil, assassinato de trabalhadores rurais cumpre sua função nos rituais antigos de sacrifícios, servem para nos purificar. Diante das notícias todos se indignam, lamentam, ficam mais ‘bonzinhos’.
Crueldade
A CNBB torna-se santificada... Os políticos se mostram consternados... Os movimentos sociais correm com as caras compungidas e seguram os caixões como se fossem os proprietários privados da dor. Os assassinatos de camponeses têm a vantagem de revelar a inutilidade do nosso clamor. Nosso clamor não está nos assassinatos. O campo não é o mundo das idéias. Lá, o mundo é sangrento e cruel. Portanto, o assassinato é uma maneira eucarística do nosso clamor. Devoramos aqueles corpos como devoramos um prato de chambarí. O assassinato é iluminista, uma aula de vida, melhor, de morte.
Fato comum
Os assassinados/assassinos são mais profundos do que nós. Nós falamos, eles estão atolados até o pescoço na escrotidão do sangue e da merda fétida. Eles nos limpam e nos aliviam. Graças a Deus, não estamos lá. Graças a Deus, podemos-nos ‘injuriar’, nos ‘indignar’. Os assassinos cumprem as ordens invisíveis advindas das mais variadas partes: dos fazendeiros, dos políticos, dos juízes, da lógica colonialista e escravagista e secular. Para eles não existem assassinatos, muito menos assassinos, trata-se apenas de mais um dia comum e corriqueiro e agitado de quem sobrevive no inferno. Os assassinos são nossos enviados especiais, nossa tropa de elite. Os assassinos (desde Chico Mendes, Dorothy Stang, dos 19 sem-terra etc.) são nossas vanguardas, nossos guardas. Fica a sensação de que ‘bem’ e ‘mal’ se misturaram numa massa sangrenta. O país fica chocado, indignado, mas ninguém sabe da verdade. É como se todas as pessoas fossem assassinas e vítimas simultaneamente.
Destino
Os assassinos deixam entrever a síntese do que é o Brasil. Eles agem enquanto os mantenedores da política de extermínio, da nova ordem mundial. A culpa é sempre da vítima. Na verdade, ninguém tem o direito da escolha: nem morto, nem matador. Os incontáveis assassinatos de camponeses servem enquanto coisa útil, porque aprendemos mais sobre o Brasil... Aprendemos muito sobre nosso destino escroto, sobre as reformas que a democracia não quer fazer... Aprendemos que reforma agrária é discurso vazio em momentos de campanha eleitoreira... Aprendemos que a morte é coisa simples e banal... Aprendemos com os assassinatos sobre o oportunismo dos bons.
Culpa
Com os assassinatos de camponeses aumentaram o patrulhamento sobre qualquer debate que discorde da reforma agrária clássica dos sem-terra. Debater sobre as questões da agroindústria e da produção de alimento é ser visto como representante do ‘neoliberalismo de direita’. Os assassinatos de trabalhadores rurais fazem o governo reconhecer um erro político para não cometer um erro político.
Os intelectuais, por sua vez, adoram uma tragédia figée, em galantine, uma tragédia em conserva. Preferimos as tragédias simbólicas. Uma miséria boa e interpretativa. A tragédia e a miséria tinham uma função social: aplacar nossa consciência. Antes, a tragédia existia enquanto mera figurante, agora, ela quer ser coadjuvante principal. Os assassinatos nos revelam como o humanismo é pouco, diminuto.
O assassinato mostra que os fatos correm mais velozes do que as interpretações, do que nossa piedade e condolências hermenêuticas que não explicam nada. Vejam as decisões sublime do tribunal de justiça do Pará sobre Eldorado do Carajás: ‘a culpa foi das vítimas!’ foram 19 culpados. Por fim, os assassinatos demonstram que uma solução para o campo não emociona ninguém, que não estamos suficientemente preparados para realizá-la. Não gera votos, essa é a verdade.
FONTE: Jornal Primeira Página
http://www.primeirapagina-to.com.br/noticia.php?l=b211bd91d7193df336c3300a51e308c7
Ed. Nº 984, Palmas-TO, 19 a 25 de junho de 2011
O assassinato é sempre culpa do ‘outro’. Ninguém se arvora em querer partilhar com os assassinatos. O assassinato de camponeses, ativistas, religiosos é um tipo de latifúndio improdutivo que ninguém quer dividir. As mortes dão à sensação de que algo aconteceu, quando nada parece ter acontecido. Trata-se de uma coisa que sempre esteve presente em nossa tosca sociabilidade, algo que acontece sem parar. Uma máquina sangrenta e silenciosa. No Brasil, assassinato de trabalhadores rurais cumpre sua função nos rituais antigos de sacrifícios, servem para nos purificar. Diante das notícias todos se indignam, lamentam, ficam mais ‘bonzinhos’.
Crueldade
A CNBB torna-se santificada... Os políticos se mostram consternados... Os movimentos sociais correm com as caras compungidas e seguram os caixões como se fossem os proprietários privados da dor. Os assassinatos de camponeses têm a vantagem de revelar a inutilidade do nosso clamor. Nosso clamor não está nos assassinatos. O campo não é o mundo das idéias. Lá, o mundo é sangrento e cruel. Portanto, o assassinato é uma maneira eucarística do nosso clamor. Devoramos aqueles corpos como devoramos um prato de chambarí. O assassinato é iluminista, uma aula de vida, melhor, de morte.
Fato comum
Os assassinados/assassinos são mais profundos do que nós. Nós falamos, eles estão atolados até o pescoço na escrotidão do sangue e da merda fétida. Eles nos limpam e nos aliviam. Graças a Deus, não estamos lá. Graças a Deus, podemos-nos ‘injuriar’, nos ‘indignar’. Os assassinos cumprem as ordens invisíveis advindas das mais variadas partes: dos fazendeiros, dos políticos, dos juízes, da lógica colonialista e escravagista e secular. Para eles não existem assassinatos, muito menos assassinos, trata-se apenas de mais um dia comum e corriqueiro e agitado de quem sobrevive no inferno. Os assassinos são nossos enviados especiais, nossa tropa de elite. Os assassinos (desde Chico Mendes, Dorothy Stang, dos 19 sem-terra etc.) são nossas vanguardas, nossos guardas. Fica a sensação de que ‘bem’ e ‘mal’ se misturaram numa massa sangrenta. O país fica chocado, indignado, mas ninguém sabe da verdade. É como se todas as pessoas fossem assassinas e vítimas simultaneamente.
Destino
Os assassinos deixam entrever a síntese do que é o Brasil. Eles agem enquanto os mantenedores da política de extermínio, da nova ordem mundial. A culpa é sempre da vítima. Na verdade, ninguém tem o direito da escolha: nem morto, nem matador. Os incontáveis assassinatos de camponeses servem enquanto coisa útil, porque aprendemos mais sobre o Brasil... Aprendemos muito sobre nosso destino escroto, sobre as reformas que a democracia não quer fazer... Aprendemos que reforma agrária é discurso vazio em momentos de campanha eleitoreira... Aprendemos que a morte é coisa simples e banal... Aprendemos com os assassinatos sobre o oportunismo dos bons.
Culpa
Com os assassinatos de camponeses aumentaram o patrulhamento sobre qualquer debate que discorde da reforma agrária clássica dos sem-terra. Debater sobre as questões da agroindústria e da produção de alimento é ser visto como representante do ‘neoliberalismo de direita’. Os assassinatos de trabalhadores rurais fazem o governo reconhecer um erro político para não cometer um erro político.
Os intelectuais, por sua vez, adoram uma tragédia figée, em galantine, uma tragédia em conserva. Preferimos as tragédias simbólicas. Uma miséria boa e interpretativa. A tragédia e a miséria tinham uma função social: aplacar nossa consciência. Antes, a tragédia existia enquanto mera figurante, agora, ela quer ser coadjuvante principal. Os assassinatos nos revelam como o humanismo é pouco, diminuto.
O assassinato mostra que os fatos correm mais velozes do que as interpretações, do que nossa piedade e condolências hermenêuticas que não explicam nada. Vejam as decisões sublime do tribunal de justiça do Pará sobre Eldorado do Carajás: ‘a culpa foi das vítimas!’ foram 19 culpados. Por fim, os assassinatos demonstram que uma solução para o campo não emociona ninguém, que não estamos suficientemente preparados para realizá-la. Não gera votos, essa é a verdade.
FONTE: Jornal Primeira Página
http://www.primeirapagina-to.com.br/noticia.php?l=b211bd91d7193df336c3300a51e308c7
Ed. Nº 984, Palmas-TO, 19 a 25 de junho de 2011
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quarta-feira, 8 de junho de 2011
A VIDA COMO OBRA DE ARTE
Jorge Bichuetti
O mundo e a vida andam cinzentos. Nublados... Fragmentados, passivos, racionais, seguimos... O vida tornou-se um pesado e exaustivo fardo... Robotizados, perdemos carisma, charme e alegria no viver e no existir...
A subjetividade capitalística extraiu a magia da existência... Somos homens em série e assépticos. Nesse contexto, Gandhi revoluciona, dizendo que "o segredo da arte de viver é transformar a vida numa obra de arte."
Viver, poeticamente...
Viver, performaticamente...
Viver devindo-se, no andar, no gesticular , no olhar, uma estrela bailarina...
Nietzsche afirma categórico que não vencemos nossos demônios íntimos senão com o riso, a dança e a música.
Santo Agostinho chega a afirmar que o céu não merece os que não sabem dançar...
A arte é mais do que distração, entreterimento, ilusão... É vida insurgente, virtualidade que se atualizada transforma o ser humano e o socius.
Ela nos abre os portais do devir e do porvir... Vide as lições do surrealismo.
Por exemplo, a poesia...
A poesia desnuda as tramas do ontem, as potências do hoje e é um clarão e clareira no espaço do porvir que nela germina e alvorece no entre a profecia e a gravidez...
A poesia desnuda
profetiza
engravida
é germinação
florescência
devir...
Ela é alucinógena, amplifica a consciência e percute o inconsciente produtivo que denuncia as devastações sociais do agora e anuncia uma nova suavidade, a justiça social e a sociabilidade solidária.
Era a cachaça de Drummond...
O ser humano é ser capaz de se fazer, desfazer-se e refazer-se.
Podemos ousar viver artisticamente.
Não se trata de produzir arte ou se enamorar das artes; trata-se de agir, pensar, vincular-se, intervir, amar, con-viver, transformando nossa própria vida numa obra de arte.
Deixar a arte penetrar e inundar a nossa pele.
Dizer palavras de amor na melodia suave de Schumann; narrar nossa dor e lamento no compasso de um jazz; guerrear no ritmo dos tambores africanos; enamorar-se na ternura de Cartola...
Viver artisticamente...
Desfazer o cinzento e colorir nossos passos no caminho: com a vivacidade da aurora que está em Yara Tupinambá, Di, Tarsila de Amaral...
Podemos mudar e nos refazer...
E refazer-se como arte é bailar no cotidiano, voar na luta e devir-se suavidade, vitalidade, poesia e dança, uma pintura visceral... Um parir-se na arte-manha do existir inventivo e inovador, poético e belo...
domingo, 5 de junho de 2011
Programa Observatório da Educação - Escrileituras FACED-UFRGS: CURSO DE EXTENSÃO – TRANSCRIAÇÕES NO COTIDIANO
Programa Observatório da Educação - Escrileituras FACED-UFRGS: CURSO DE EXTENSÃO – TRANSCRIAÇÕES NO COTIDIANO: "Coordenação Geral Profª. Drª. Sandra Mara Corazza DEC/PPGEDU/FACED-UFRGS LOCAL: FACED/UFRGS Porto Alegre, RS - Av. Paulo Gama, 110 I..."
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